A ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) teme uma crise humanitária no Líbano, comparável àquelas vividas durante a guerra civil – disse à AFP seu presidente, o franco-libanês Mego Terzian.

PERGUNTA: Beirute já sofreu alguma vez uma crise sanitária dessa magnitude?

RESPOSTA: Nós vivemos durante a guerra libanesa períodos difíceis e similares, com bombardeios sobre os depósitos de petróleo que estavam não muito longe do porto. Eram as mesmas cenas. A cidade estava completamente devastada, as pessoas circulavam feridas pelas ruas, desesperadas, sem saber para onde ir.

Alguns membros de MSF, que se mobilizaram neste período, também estão muito afetados e abalados com a gravidade dos testemunhos, que voltam a nos mergulhar neste período tão duro.

P: Os hospitais de Beirute podem enfrentar a situação?

R: Segundo nossas equipes no local, na noite de terça houve uma afluência em massa aos hospitais de Beirute e da região e, muito rapidamente, as salas de emergência se viram lotadas. Os pacientes tiveram de ser levados para fora da cidade. Desde quarta-feira, a situação parece ser bem mais estável.

O pessoal de saúde libanês – sobretudo, aqueles que já têm a experiência da guerra civil – conseguiram fazer muito rapidamente a classificação na emergência e priorizar aqueles pacientes que precisavam de cirurgia.

O bairro central de Achrafieh foi impactado, e três de seus hospitais se viram afetados. Entre eles, o de Saint-George, que tem 1.100 leitos. O centro de diálise, que é o principal do país, foi completamente destruído.

P: Quais são as necessidades prioritárias?

R: Catar, Kuwait e Jordânia vão enviar hospitais de campanha. A pedido das autoridades, garantiremos o fornecimento de certos medicamentos, especialmente antibióticos e analgésicos e particularmente bolsas de sangue. Desde a manhã de quarta-feira, estamos presentes nas reuniões de crise da Organização Mundial da Saúde junto com outras organizações humanitárias.

Distribuímos as tarefas para ajudar as populações afetadas, essas 300.000 pessoas que não têm casa. Nossa prioridade, nestes próximos dias, será o acompanhamento destas populações afetadas. A outra prioridade serão os doentes crônicos, aqueles que sofrem de câncer, HIV, ou doenças respiratórias como asma, com risco de ter problemas no fornecimento de medicamentos. Soubemos que os depósitos de medicamentos e vacinas situados no porto de Beirute foram afetados.