A quantia é tão fabulosa que tem de ser escrita por extenso: 340 bilhões de reais. É nada mais, nada menos o dinheiro que o BNDES planeja despejar na economia brasileira nos próximos 5 anos. Uma parte dele, R$ 135 bilhões, sairá direto dos cofres da instituição. Os restantes 60% virão dos tomadores de empréstimos ou do mercado de capital ? um percentual elevado, que tem despertado ceticismo em relação ao sucesso geral do plano. ?Ninguém pode imaginar que o BNDES vai financiar sozinho o País. Faremos a nossa parte, ampliando o leque de projetos?, diz Francisco Gros, presidente da instituição. Por ano, em média, serão R$ 68 bilhões em investimentos alavancados pelo Banco, algo em torno de 7% do PIB nacional. Desde que o plano qüinqüenal foi anunciado, no mês passado, dezenas de técnicos do BNDES trabalham para definir diretrizes: onde, como e quando será gasta a dinheirama oficial. No momento, o banco calcula o tamanho da fatia que cada setor da economia brasileira deverá abocanhar.

Na semana passada, o BNDES fez o anúncio do primeiro destino de uma parcela desses recursos. Serão investidos entre R$ 300 milhões e R$ 500 milhões no Programa de Apoio às Novas Sociedades Anônimas. Ele vai adquirir ações ordinárias, ou debêntures conversíveis em ações, preferencialmente de pequenas e médias empresas. A expectativa é de que 60 a 70 companhias abram seu capital até 2005, principalmente as de base tecnológica. Outro projeto que mira nas empresas menores é o cartão de débito, criado para desburocratizar a tomada de empréstimos para compra de maquinário. A orientação geral de Gros é incentivar ações que beneficiem, simultaneamente, mais de um setor. ?Nosso sonho?, exemplifica Gros, ?é financiar uma pequena empresa no Nordeste, que gere muito emprego e exporte sua produção.?

O novo plano qüinqüenal traz modificações em relação ao que se vinha fazendo, sobretudo em termos de transparência. As principais novidades são:

? Aumentou a alocação geral de recursos feita pelo Banco. A verba anual despendida pelo BNDES vai aumentar progressivamente de R$ 24 bilhões em 2000 para R$ 30 bilhões em 2005. Em 1999 a verba emprestada foi de R$ 18 bilhões.

? A indústria perdeu participação no orçamento. De 46,7% em 1999, sua parte vai encolher gradualmente para 35% em 2005. Em termos nominais, porém, a verba industrial vai crescer de R$ 8,4 bilhões para R$ 10,5 bilhões. Uma das áreas que terão condições facilitadas será a combalida indústria naval.

?As áreas de infra-estrutura, exportação e desenvolvimento regional ganham em participação. Infra-estrutura vai passar de 30% para 35% até 2005. Exportação vai de 21% para 25%. Desenvolvimento social (educação, saúde, formação de mão-de-obra…) de 4,4% para 16,7%.

?O Banco volta-se definitivamente para o fortalecimento do mercado de capitais. Empresas com projeto de abertura de capital serão incentivadas e a própria captação de recursos complementares será feita, preferencialmente, na Bolsa e no mercado de títulos privados.

Tudo maravilhoso? Não exatamente. Apesar da verba da instituição ter engordado, ela reduzirá sua participação média nos projetos financiados de 50% para 40%. Os R$ 30 bilhões programados para 2005 deverão gerar investimentos na ordem de R$ 75 bilhões. Ou seja, outros R$ 45 bilhões de contrapartida terão de vir do bolso do tomador ou do mercado. Aí pode estar um dos entraves aos planos de Gros. ?Há falta de recursos e o custo do dinheiro no Brasil é alto?, afirma Roberto Faldini, empresário do setor de infra-estrutura e telecomunicações e diretor da Fiesp. ?Não falta vontade, mas os empresários não têm como financiar 60% dos seus projetos à taxa de juros de mercado.? A outra alternativa com que o BNDES acena é a de captação no mercado financeiro, mas essa também não é corriqueira. Não é qualquer empresa que vai à Bolsa ou consegue emitir títulos privados. Ao contrário, hoje as empresas fecham capital, assustadas pelos encargos que esse compromisso acarreta sem oferecer contrapartida de liquidez financeira.

Tudo isso, se vier de fato a ser implementado, estará em saudável contradição com o que tem sido feito até agora. Na década de 90, as maiores contratadoras de empréstimos no BNDES foram as empresas privatizadas pela União. Contas feitas pelo Banco indicam que, de 1999 a setembro deste ano, pelo menos um em cada quatro reais de empréstimos aprovados pelo BNDES tinha como destino final uma ex-estatal. No ano passado foram R$ 5,186 bilhões, de um total de R$ 19 bilhões aprovados. A maior parte se destinava a projetos de infra-estrutura (telecomunicações e energia) e indústria de base. A mesma proporção se repetiu este ano: até setembro, foram aprovados R$ 3,894 bilhões para ex-estatais, de um total de R$ 14 bilhões. E as estatísticas do Banco não incluem projetos como o descruzamento das ações de Vale do Rio Doce e CSN, que deverá consumir perto de R$ 500 milhões. A deformação estatística e econômica é evidente. ?Essas decisões foram tomadas em períodos de crise?, diz Gros. ?Os contratos já firmados serão mantidos, mas isso não vai mais acontecer.?

PROJETO PARA CAPACITAR A CONCORRÊNCIA
Prensa Três

Canavial cubano: verba do BNDES vai melhorar produtividade da Ilha
Nem todo mundo gosta dos financiamentos do BNDES. Em Ribeirão Preto, produtores de açúcar e álcool ficaram surpresos ao descobrir que o Banco estuda uma linha de máquinas brasileiras para Cuba. São US$ 60 milhões para melhorar a produtividade da ilha ? que disputa o mercado internacional de açúcar com o Brasil. Segundo Francisco Gros, presidente do Banco, o financiamento será feito porque beneficia a indústria de máquinas brasileiras. ?Pergunte ao setor de máquinas o que eles pensam da proposta?, responde. Eles gostam, claro.
 

Colaborou Marcelo Aguiar