Depois de quase duas décadas, o acordo assinado em 2019 do governo brasileiro com o americano sobre o uso da Centro de Lançamento de Alcântara (MA) trouxe uma esperança de que o setor finalmente decolaria no Brasil. A base é uma das mais bem localizados no mundo, por estar a dois graus da Linha do Equador e exigir 30% menos combustível para “alcançar as estrelas”. Mas os EUA pressionaram para que não houvesse troca de tecnologia espacial do Brasil com outras nações, empacando tudo por um tempo. Agora, em 2022, com o novo ânimo pela corrida espacial privada e o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas assinado, podemos dar uma pequena mordida nessa pizza, que em 2021 foi avaliada em US$ 388,5 bilhões. Somado ao anúncio do segundo brasileiro a ir para o espaço (veja boxe ao lado), tivemos este mês a feira SpaceBR Show, no Centro de Convenções Frei Caneca, São Paulo. Foi uma amostra da vontade de crescer, se mostrar e criar oportunidades de negócios no chamado New Space, setor que engloba inúmeras startups. Com perto de 90 expositores, agregaram também empresas de seu ecossistema, como drones e geomapeamento.

MAIS COMPETIÇÃO Entre as participantes esteve a filial brasileira da canadense C6 Launch, uma das cinco empresas estrangeiras que firmaram acordo para administrar lançamentos em Alcântara. “O Brasil tornou o ambiente regulatório mais competitivo para atividades espaciais comerciais, parecido com o dos EUA”, disse à DINHEIRO o COO da C6, Paulo Vasconcellos. O grande negócio para o Brasil será o de lançamento de cargas para o espaço, como grandes, nano e microssatélites — a C6 pretende colocar no espaço em 2024 equipamentos com massa menor de 100 kg. O mercado neste nicho, segundo o executivo, deve crescer em torno de 600%, estimando um valor de US$ 2 bilhões.

O diretor de projetos mecânicos da Kosmos Rocketry, João Pedro Sandrin, também um expositor na SpaceBr Show, analisa que poucos brasileiros trabalharão efetivamente no desenvolvimento técnico de projetos em Alcântara. Empresas estrangeiras trarão seus engenheiros. “Praticamente iremos só operar os lançamentos de órbita baixa, de equipamentos de 600 kg. A infraestrutura de Alcântara, hoje, permite isso”, afirmou à DINHEIRO o ainda estudante de engenharia espacial na Universidade Federal de Santa Catarina. Nos anos 60, com a Nasa, a exploração espacial era puramente governamental. Hoje, são empresas privadas. A Kosmos, uma empresa sem fins lucrativos, cria foguetes para competições, como a que vai ingressar agora em junho, na Spaceport America Cup, base criada pela Virgin Galactic, de Richard Branson, no Novo México.

No Brasil, startups como a Visiona, joint venture entre Embraer e Telebrás, já produz grandes satélites, como o VCUB1. No setor nano, a Pion. No mundo, existe um misto de exploração do setor: parte governamental, como na China e Japão, parte startups, como na França. Um corte dos profissionais brasileiros migra para a indústria aeronáutica ou vai em busca de colocações no exterior. Mas alguns, mais românticos e sonhadores — e a exploração espacial não vive sem isso, vide Elon Musk e seu projeto de vida multiplanetária —, pretendem contribuir com o avanço brasileiro. Está nos planos de Sandrin “fazer uma spin-of da Kosmos ao terminar a graduação e ficar por aqui”.

ENTREVISTA: Victor Hespanha

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O engenheiro Victor Hespanha, de 28 anos, nem imaginava que investindo dinheiro em NFTs (Non-Fungible Token) da Gen-1, ativo da Crypto Space Agency (CSA), a agência espacial para a nação cripto, poderia ser sorteado com uma viagem para o espaço. Foi e irá no quinto voo tripulado foguete da Blue Origin, de Jeff Bezos, que estava marcado para sexta-feira (20), mas foi adiado para data a ser definida.

Você sabia que concorreria a uma disputada passagem para o espaço investindo em NFT?
Sempre soube que os investidores do Gen-1 NFT se tornariam membros premium da comunidade da CSA e teriam vantagens como acesso prioritário a eventos, produtos e sorteios. No entanto, essa não foi minha principal motivação. O objetivo era começar a diversificar mais minha carteira com ativos que pudessem valorizar ao longo tempo.

Sendo sincero: qual seu interesse por exploração espacial?
Quando criança, sonhei em ser astronauta, passava horas observando o céu. Mas também já sonhei ser jogador de futebol, o que não deu certo.

Até ganhar o prêmio, o que sabia sobre os voos da Blue Origin?
Acompanhei pela própria imprensa a cobertura dos voos tripulados da Blue Origin. Principalmente o primeiro, que teve bastante buzz em torno do tema. Tinha curiosidade nas imagens, entender o que as pessoas viam do foguete… Mas, obviamente, nunca imaginei que um dia seria eu indo em uma dessas missões.

O ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações Marcos Pontes, primeiro astronauta brasileiro, entrou em contato com você?
Não. Acho que porque a viagem vai ser curta em termos de tempo: só dez minutos. Pontes passou por isso em escala muito maior.

Você anda de boa em montanha russa?
Não, não muito de boa. Minha mulher disse que depois da viagem terei de ir com ela sem reclamar.

Você é fã de Star Wars, Star Trek?
Prefiro Guardiões das Galáxias, da Marvel.