O ex-prefeito Fernando Haddad declarou nesta quarta-feira, 5, que não teme comprometer a transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja candidatura foi barrada pela Justiça Eleitoral, ao arrastar a estratégia jurídica que insiste na candidatura de Lula ao Planalto.

“Não, não temos temor. Nós temos coragem de defender o que é certo”, disse Haddad, ao ser perguntado se não teme que não haja tempo hábil para a transferência de votos de Lula para ele, que deve substituir o ex-presidente na cabeça da chapa presidencial. O ex-prefeito fez uma rodada de visitas a portas de montadoras e fábricas de autopeças no ABC paulista.

O PT aguarda o julgamento de um pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a candidatura de Lula. Se a decisão não for favorável ao ex-presidente, a legenda se prepara para anunciar a substituição até o próximo dia 11.

“Se conseguirmos a liminar, o Lula estará nas urnas e a vida segue”, afirmou Haddad. Se a liminar for negada por um ministro, ele citou a possibilidade de recorrer ao plenário do STF, a quem disse caber a palavra final. “Só o Supremo para desacatar a ONU em função do seu entendimento sobre a validade ou não de um tratado internacional”, disse Haddad, cobrando a validade da manifestação do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre os direitos políticos de Lula.

Dilema

Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) barrar a candidatura de Lula, setores do PT e de partidos aliados, como o PCdoB, manifestaram preocupação com não colocar Haddad como candidato imediatamente e insistir na estratégia jurídica.

Por outro lado, há um dilema que, abrindo mão dos últimos recursos na Justiça, haja a perda da credibilidade no discurso de que Lula é inocente. “Nunca pensamos nessa questão de cálculo eleitoral colocando de lado os valores que a gente acredita, sobretudo a liderança do Lula e a nossa completa convicção de que ele era a pessoa talhada para tirar o País da crise”, afirmou o ex-prefeito.

Denúncia

Denunciado pelo Ministério Público de São Paulo, Haddad afirmou que a instituição está “se deixando usar eleitoralmente” nos casos dele e do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin. O tucano foi acusado pela promotoria com uma ação de improbidade administrativa. O petista, por sua vez, foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

“O Ministério Público é importante demais para ter esse tipo de postura, se deixar usar eleitoralmente, para um lado e para o outro”, disse Haddad, ao citar seu caso e o de Alckmin.

Em relação à denúncia por ter pedido R$ 2,6 milhões à construtora UTC Engenharia para pagamento de dívidas de campanha, Haddad classificou a ação como “vingança de um empresário”, em relação ao ex-presidente da empresa Ricardo Pessoa.