A equipe econômica vem monitorando de perto a deterioração das condições econômicas na Argentina, mas avalia que não há risco de contágio para o Brasil. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fabio Kanczuk, argumenta que a situação brasileira das contas externas, da política fiscal e da inflação é melhor que no vizinho e investidores reconhecem as diferenças. Além disso, o governo diz que a economia doméstica é pouco dependente da Argentina.

“A impressão temos é de que não haverá contaminação”, disse o secretário ao Estadão/Broadcast. “O mercado percebe que as coisas estão diferentes, tanto que Brasil, México, Chile e Colômbia estão ilesos.” O principal argumento é que os fundamentos econômicos são bem diferentes dos dois lados da fronteira. Enquanto a Argentina tem déficit externo próximo de 5% do PIB, o saldo negativo no Brasil não chega a 1%. Na inflação, argentinos esperam mais de 20% neste ano, enquanto brasileiros devem ter alta inferior a 4%.

Nas contas públicas, apesar de o Brasil ter desistido temporariamente da reforma da Previdência, o que mostra que a situação não está resolvida, ele defende que o quadro é diferente aqui por causa do teto de gastos. “Essa é uma garantia muito forte de que a situação vai andar na direção correta.”

O tom tranquilizador também leva em conta a estimativa da Secretaria de Política Econômica de que é pequeno o impacto de eventual recessão no vizinho. Cálculo da equipe econômica indica que um tombo de 10% do PIB argentino resultaria em retração de 0,05% da economia brasileira. “A conclusão é que não afeta. O impacto é muito pequeno”, argumenta. A recessão passou a ser uma hipótese levantada pelos economistas após nova alta do juro levar a taxa para 40% ao ano. “O Brasil afeta muito a Argentina, mas eles não nos afetam tanto porque nossa economia é muito fechada”, resume o secretário.

Direção. O novo pacote de medidas anunciado ontem em Buenos Aires foi elogiado por Fabio Kanczuk. “A direção que tomaram é perfeita”, disse, ao comentar o novo aumento do juro, a adoção de restrições para bancos comprarem dólares e uma meta mais rígida para o déficit público, que caiu de 3,2% do PIB para 2,7%. Antes desse recente aumento da desconfiança dos investidores, o governo Maurício Macri já havia tomado medidas com teor semelhante, mas com expectativa de resultados mais graduais.

No governo brasileiro, prevalece o entendimento de que a recente turbulência no vizinho é resultado do aumento do questionamento dos investidores sobre a sustentabilidade fiscal e externa na Argentina. “Em dezembro, aumentam a meta de inflação. Tiveram um problema de reputação e, agora, tentam reconquistar a confiança.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.