Nas eleições de 2014, o Tribunal Superior Eleitoral contabilizou 6,1 mil candidatos na disputa pelos 513 cargos da Câmara dos Deputados. Apesar dessa quantidade de postulantes a uma cadeira de parlamentar, a renovação não chegou a 47%. Desde as eleições de 1998 não se troca mais da metade dos deputados federais. No ano que vem, o empresário Eduardo Mufarej, sócio da Tarpon Investimentos e CEO da Somos Educação, quer influenciar a renovação e, principalmente, a reconstrução da política nacional. Ele deu início a um movimento chamado Renova Brasil, que terá um fundo para financiar e impulsionar a criação de lideranças futuras para a política. O objetivo é que já em 2018 cerca de 100 “crias” desse projeto disputem o pleito para deputado federal. “O Eduardo criou esse projeto apartidário na pessoa física para que potenciais candidatos sejam capacitados a disputar um cargo”, diz uma fonte próxima a ele. “Ele agora está em busca de voluntários que possam ser doadores e que se identifiquem com a causa.”

Para influenciar: Eduardo Mufarej está em busca de voluntários que queiram colaborar com o seu fundo para as eleições (Crédito:Divulgação)

Nas últimas semanas, Mufarej apresentou o Renova Brasil aos potenciais participantes. Foram procurados o empresário Abilio Diniz, o ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, o publicitário Nizan Guanaes e o apresentador Luciano Huck. Eles conheceram os detalhes que vão nortear esse trabalho com as novas lideranças. Ética e responsabilidade social são os dois pilares que devem sustentar a vontade de servir ao público pela saúde, educação, cidadania e combate a corrupção. “Pensar numa sociedade representada com opinião, identidade e ideias é um novo sinal e um processo dessa lenta reforma política que o Brasil está promovendo”, diz Fernando Schüler, cientista político do Insper. “Não se faz democracia sem engajamento. Por isso que em qualquer grande democracia há grupos de cidadãos que apóiam e financiam conceitos e não apenas interesses.”

Num evento realizado em agosto passado pela Fundação Estudar, instituição criada por Jorge Paulo Lemann para investir na educação e na formação de executivos, Huck disse que não era candidato à presidência, mas que queria usar a força de sua imagem para “unir gente do bem em um projeto para construir o futuro que queremos”. Guanaes escreveu na Folha de S. Paulo, na semana passada, que é preciso uma intervenção civil contra o Estado velho e inoperante. “Esse movimento passa por incentivar pessoas novas no Legislativo e no Executivo”, escreveu ele. É exatamente isso que Mufarej quer: quebrar o modelo viciado da política, que afasta os novatos tanto pelo risco do fracasso como pela contaminação de velhos hábitos. Até o fechamento desta edição, nenhum dos seus alvos tinha confirmado publicamente a adesão ao projeto.

De acordo com Michael Mohallem, professor da FGV Direito Rio, o Renova Brasil parece querer repetir o Movimento Brasil Livre (MBL), que surgiu na esteira da impeachment, também apartidário. O MBL conseguiu eleger o vereador Fernando Holiday, em São Paulo. Esse fenômeno deve se repetir com aqueles que entrarem para o projeto de Mufarej e, independentemente do partido que escolherem para concorrer ao cargo de deputado federal, ficarão associados àqueles que financiaram sua formação. “Essa iniciativa não é nova porque já existem outras organizações suprapartidárias”, afirma Mohallem. “Todos os grandes partidos, sem exceção, têm um pé na Lava Jato e não conseguem dar uma resposta à sociedade. Uma saída para esses outsiders, que entram na política com credibilidade, seria a candidatura independente.”

A união faz a força?: Abilio Diniz (à dir., acima), Nizan Guanaes, Arminio Fraga e Luciano Huck conheceram os detalhes do movimento Renova Brasil, que pretende trabalhar na capacitação de novas lideranças para a política nacional (Crédito:Pedro Dias / Ag. Istoé, Masao Goto Filho / Ag. Istoé, Carlos Torres, Divulgação)

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, já entregou o relatório sobre a ação que permite que pessoas sem filiação partidária disputem eleições. A decisão sobre a votação está nas mãos da presidente Cármen Lúcia. O assunto é controverso por existir um artigo na Constituição que explicita a necessidade de filiação a uma legenda para concorrer a um cargo público. Dificilmente, portanto, a candidatura independente será aprovada. Enquanto isso, políticos com mandato negociam uma reforma política que facilite sua reeleição. Na terça-feira 16, o Senado aprovou a criação de um fundo eleitoral público de R$ 1,7 bilhão. O projeto seguiu para a Câmara e pode ser votado nesta semana.

De qualquer forma, o movimento encabeçado por Mufarej amplia a presença de empresários na vida política. João Doria Jr. elegeu-se prefeito de São Paulo. Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, defende que os empresários “saiam da moita” e tem sido lembrado para uma eventual chapa presidencial – ele nega, mas já foi deputado federal. Jorge Paulo Lemman vem repetindo, com frequência, que não se pode mais fugir da política. Ele, agora, quer influenciar os jovens. “O País vai sofrer uma grande transformação no ano que vem e nos anos posteriores. Nossos bolsistas vão ter uma oportunidade grande de participar dessa transformação, como empreendedores, políticos ou pessoas atuantes no setor público”, disse Lemann, no evento da Estudar. “Se alguém for para um cargo elevado e elevar outros, vamos ter um Brasil melhor.” Faz sentido.