O papa Francisco recebeu neste sábado (24) no Vaticano o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez, em uma audiência para retomar relações e marcada pelo preocupante novo surto de coronavírus que afeta a Europa.

A audiência, realizada conforme a tradição com os chefes de Estado ou de governo na biblioteca pontifícia no segundo andar do palácio apostólico, durou pouco mais de meia hora.

Essa é a primeira reunião entre o pontífice argentino e o líder socialista espanhol, que adiantou na terça-feira durante sua viagem relâmpago a Roma que iria convidar o papa a visitar a Espanha “quando puder”.

Sánchez foi recebido com todas as honras no pátio San Damaso dentro do Vaticano e, depois do encontro com o papa, se reuniu com o Secretário de Relações com os Estados, Arcebispo Paul Gallagher, em vez do Secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, como inicialmente previsto.

A audiência com Sánchez, que chegou acompanhado por sua esposa Begoña Gómez, rigorosamente vestida de preto como previsto pelo protocolo, acontece em um momento delicado, tanto político como de saúde, e tem como objetivo retomar as relações entre Francisco e o governo socialista espanhol.

“Para o governo, as relações com o Vaticano são importantes, temos muitos assuntos sobre a mesa”, explicou Sánchez na terça-feira durante a coletiva de imprensa conjunta com o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, realizada na sede do governo italiano.

A reunião papal foi precedida por um encontro no início da semana entre a ministra das Relações Exteriores espanhola Arancha González Laya e seu homólogo no Vaticano, monsenhor Gallagher.

– Uma nova fase –

Segundo fontes jornalísticas, entre os assuntos de interesse comum estão a reforma da educação, as modificações na lei do aborto e o projeto de eutanásia, além das medidas contra a pandemia de coronavírus na Espanha, que superou ontem os 3 milhões de casos, segundo anunciou o próprio Sánchez.

As duas partes esperam consolidar suas relações e iniciar uma nova fase após as mudanças decididas pelo papa dentro da hierarquia da igreja espanhola, conhecida por seu espírito conservador.

“Francisco quer marcar um antes e depois no episcopado espanhol”, escreveu em setembro Jesús Bastante, da página Religião Digital, ao referir-se aos cardeais Carlos Osoro (arcebispo de Madri) e Juan José Omella (arcebispo de Barcelona), considerados próximos ao pontífice argentino.

Entre os assuntos provavelmente abordados está também a nova encíclica papal, “Fratelli Tutti”, na qual Francisco denuncia as desigualdades, o “vírus do individualismo” e pede o fim “do dogma neoliberal”, argumentos muito apreciados pelos aliados do governo de Sánchez, a esquerda radical do Podemos.

A última visita oficial de um presidente do governo da Espanha ocorreu há mais de sete anos, em 15 de abril de 2013, quando o conservador Mariano Rajoy foi ao Vaticano um mês após a eleição de Jorge Mario Bergoglio.

As disposições sanitárias na Itália e no Vaticano devido à pandemia forçaram uma cobertura jornalística limitada.