Nesta quarta-feira (8), a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um relatório apontando que dois anos de pandemia somados a guerra na Ucrânia estão causando o maior aumento no custo de vida em uma geração. Para a entidade, o aprofundamento dessa crise no mundo amplia o risco de conflitos civis e protestos sociais.

O levantamento aponta dois fatores para a crise global: o desabamento da receita das famílias e governos e o aumento dos preços. Segundo o secretário-geral da ONU, António Guterres, estima-se que 1,6 bilhão de pessoas em 94 países estão expostas a pelo menos uma dimensão da crise, com cerca de 1,2 bilhão vivendo em países severamente vulneráveis ​​a todas as três dimensões.

“Para aqueles que estão no chão, cada dia traz novo derramamento de sangue e sofrimento. E para as pessoas ao redor do mundo, a guerra está ameaçando desencadear uma onda sem precedentes de fome e miséria, deixando o caos social e econômico em seu rastro. Os países devem agir agora para salvar vidas e meios de subsistência”, diz Guterres, em nota.

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O aumento da fome desde o início da guerra pode ser maior e mais generalizado, segundo o relatório. O número de pessoas com insegurança alimentar grave dobrou de 135 milhões antes da pandemia para 276 milhões em apenas dois anos. Os efeitos em cascata da guerra podem empurrar esse número para 323 milhões.

Cerca de 60% dos trabalhadores em todo o mundo já têm renda real mais baixa do que antes da pandemia, o que significa que as famílias precisam escolher entre pular refeições, manter as crianças na escola ou pagar contas médicas, por exemplo. Ainda segundo o relatório, o índice de preços de alimentos da FAO está em níveis quase recorde e 20,8% maior do que nesta época do ano passado.

Para a chefe de comércio da ONU, Rebeca Grynspan, se a guerra continuar, e os altos preços de grãos e fertilizantes persistirem na próxima temporada de plantio, haverá escassez de outros alimentos básicos, como arroz, afetando mais bilhões em todo o mundo.

Durante a apresentação do relatório, Guterres pediu ação imediata em duas frentes: estabilizar os mercados globais de alimentos e energia e apoiar os países mais pobres na crise. O relatório pede a estabilização dos preços recordes de alimentos e combustíveis, a implementação de redes de segurança social e o aumento do apoio financeiro aos países em desenvolvimento.