Se existia uma bolha de valorização na bolsa brasileira quando o Ibovespa atingiu a máxima de 119.528 pontos, em 23 de janeiro deste ano, ela evaporou em menos de dois meses. Do pico para mínima de 72.026, no segundo circuit break da quinta-feira 12, a desvalorização foi de 39,7%, provocando mais de R$ 1 trilhão em perdas de valor de mercado só no Brasil. Com a suspensão de voos para a Europa por causa da pandemia do coronavírus, ordem dada pelo presidente norte-americano Donald Trump, na noite de quarta-feira 11, as bolsas de Nova York, na manhã da quinta-feira, também acionaram o circuit break, o botão de pânico que suspende as negociações para os investidores se acalmarem e refletirem sobre a realidade dos preços. Até o fechamento desta edição, o índice Dow Jones mostrava queda de 8,6% e a Nasdaq caía 7,56%. No Brasil, o Ibovespa afundava 17,15%, aos 70.602 pontos às 13 horas.

Para Rafael Ribeiro, analista de gráficos da Clear Corretora, quando o Ibovespa perde a faixa entre 82 mil e 85 mil pontos, o próximo piso ou suporte é o patamar de 70 mil pontos. “Nunca se sabe quando é o fundo do poço, mas 70 mil pontos é suporte importante. Já para cima há uma resistência nos 91 mil pontos, mas a marca dos 100 mil pontos é a chave para começar o mercado a recuperar as perdas”, afirma. Já Gustavo Bertotti, economista e head de renda variável da Messem Investimentos, lembra que em epidemias anteriores da SARS e do H1N1, os mercados se recuperaram rapidamente após três ou quatro meses de volatilidade. “Tudo vai depender da propagação do vírus, mas aumentaram muitos os casos na Europa, com quarentenas na Itália e restrições de atividades em outros países. A única boa notícia é que a contaminação diminuiu na China. E todos sabemos da importância disso para os mercados”, destaca Bertotti.

Ladeira abaixo Índice da bolsa de valores brasileira acompanhou tendência dos mercados globais e desabou na semana. (Crédito:Kevin David)

Segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, o momento exige cautela. “Essa questão do coronavírus não vai durar mais que o primeiro semestre. É preciso saber qual é seu perfil de investimento, ter isso bem definido. Se for moderado, fundos multimercados com proteção são um caminho. Já para quem é mais ligado ao risco, este é um momento de oportunidades”, afirma o etrategista.

FRUSTRAÇÃO E IPOS Na visão de Marcos Ross, economista sênior da XP Investimentos, além da pandemia do coronavírus que impacta na economia global, no caso do Brasil, há desconfiança na questão fiscal e uma frustração com o baixo crescimento e com a falta de continuidade das reformas. “O nível de stress entre os três poderes, a perda de liderança (do Executivo) e falta de andamento das reformas administrativa e tributária, do marco do saneamento, e da PEC Emergencial provocam essa frustração”, diz. Ele explicou que isso se reflete no câmbio e na bolsa de valores. “O Brasil, por ter um mercado mais líquido, acaba sofrendo mais do que outros emergentes”, observa, destacando que o real é uma das moedas com maior desvalorização. “Quanto ao fluxo de saída da bolsa, por enquanto, acaba sendo compensado pela entrada de investimento estrangeiro direto. Mas, a persistir esse crescimento baixo, isso poderá afetar o investimento estrangeiro direto mais para frente”, diz.

“Os IPOS não têm sido cancelados. O que se tem discutido é qual será o melhor momento para a oferta de ações ser precificada” Thiago Giantomassi, Sócio de M&A do Demarest. (Crédito:Divulgação)

Diante da semana caótica nos mercados, a fila de ofertas iniciais de ações (IPOs) com 19 pedidos de análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em 2020, teve o primeiro anúncio de adiamento, a da Caixa Seguridade, que postergou sua operação em três meses. “Os IPOs não têm sido cancelados. O que está em discussão é qual será o melhor momento para a oferta ser precificada. A janela de mercado é para o final de junho e julho, mas algumas maiores tendem a ser postergadas para depois das férias no Hemisfério Norte, num cenário, que se acredita, de menor volatilidade”, afirma Thiago Giantomassi, sócio da área de M&A e mercado de capitais do escritório Demarest.

Enquanto os investidores de curto prazo são impactados pelo noticiário negativo, em evento da Bloomberg voltado para family offices (escritórios financeiros de famílias milionárias), realizado na última segunda-feira 9, em São Paulo, muito se discutiu sobre investimentos alternativos para o horizonte de longo prazo. “Testamos os limites de perfil de cada família para entender a real necessidade de liquidez. Nos juros, chegamos próximos da realidade do mundo, portanto, a melhor alternativa são instrumentos mais sofisticados e com mais riscos”, declara Juliana Pagetti, sócia da Tera Capital. Já para Rafal Fritsch, da Canvas Capital, o cenário exige que o investidor possa abrir mão de liquidez para obter mais ganhos. “No crédito corporativo, há papéis que garantem DI+6%, DI+7% e até DI+8%, mas só com resgate a partir de D+360 dias (um ano), para fazer a alocação com mais calma”, observa Fritsch.

ESPERANÇA DE UMA VACINA: Mercado espera uma notícia positiva para que os preços dos ativos voltem à normalidade. (Crédito:Fepesil)