Os palestinos, contrários ao plano americano para o Oriente Médio, estão dispostos a retomar as negociações diretas com os israelensesm segundo o enviado pelo Quarteto Internacional e consultado nesta segunda-feira pela AFP.

Chamado de “histórico” por Israel, o plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, prevê principalmente que Israel anexe parte da Cisjordânia ocupada, bem como a criação de um Estado palestino desmilitarizado em um território dividido e sem Jerusalém Oriental como capital.

Israel se pronunciará na quarta-feira sobre a implementação deste plano controverso. Os líderes palestinos pedem há semanas à comunidade internacional que o rejeite.

No início de junho, o primeiro-ministro palestino, Mohamed Shtayyeh, havia revelado a existência de uma contraproposta palestina, mas não deu mais detalhes.

– “Forças internacionais” –

A Autoridade Palestina enviou o texto ao Quarteto Internacional, do qual a AFP obteve uma cópia, na qual assegura que os palestinos estão “preparados para retomar as negociações bilaterais no ponto em que foram suspensas” em 2014.

“Ninguém tem mais interesse em chegar a um acordo de paz do que os palestinos e ninguém tem tanto a perder quanto os palestinos na ausência de paz”, diz a carta de quatro páginas enviada pelo Quarteto.

“Estamos preparados para ter nosso Estado com um número limitado de armas e uma força policial poderosa para manter a lei e a ordem”, diz o texto, antes de acrescentar que aceitaria uma força internacional como a OTAN, com mandato das Nações Unidas, para monitorar cumprimento de qualquer tratado de paz eventual.

O texto também propõe “pequenas mudanças nas fronteiras a serem mutuamente acordadas, com base nas fronteiras de 4 de junho de 1967”, quando as forças israelenses ocuparam a Cisjordânia.

Quando apresentou a contraproposta em 9 de junho, Shtayyeh havia especificado que a transferência de territórios seria “igual a igual” em termos de “tamanho e valor”.

Sobre a questão do status de Jerusalém, os palestinos reiteram sua disposição de fazer da parte oriental da cidade, ocupada e anexada por Israel, a capital do Estado a que aspiram.

“Se Israel declarar anexação sobre qualquer parte do território palestino, isso significará necessariamente a anulação de todos os acordos assinados”, alerta o documento.

Mais de 2,8 milhões de palestinos vivem na Cisjordânia, onde cerca de 450.000 israelenses também residem em colônias consideradas ilegais pela lei internacional.

Além de cem colônias judaicas, Israel quer anexar o vale do Jordão, uma planície agrícola que representa 30% da Cisjordânia.

– “Atitude discriminatória” –

Nesta segunda-feira, o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, afirmou que qualquer anexação da Cisjordânia deve esperar até que a pandemia do novo coronavírus termine.

À medida que a falta de confiança avança, o número de casos está aumentando em Israel, que inicialmente conseguiu conter a pandemia relativamente bem. “Qualquer coisa que não tenha nada a ver com a batalha contra o coronavírus vai esperar até depois do vírus”, disse Gantz.

Mais tarde, seu escritório esclareceu que ele estava se referindo especificamente ao plano de anexação. O gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu não respondeu imediatamente aos comentários sobre essas declarações. Horas antes, a ONU chamou o projeto de anexação de ilegal e disse que “as ondas de choque […] durarão décadas e serão extremamente prejudiciais para Israel, assim como para os palestinos”.

“Ainda há tempo para modificar essa decisão”, insistiu a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, em uma declaração escrita.

Em reação a essas palavras, o Ministério das Relações Exteriores de Israel a acusou de “politizar” este caso e lembrou que Israel anunciou em fevereiro que “congelaria suas relações com o Alto Comissário devido à sua atitude unilateral e discriminatória em relação ao Estado de Israel”.