Em uma colina na Cisjordânia, lasers verdes, fogos de artifício e gritos altos interrompem a quietude da noite, uma tática dos habitantes de um povoado palestino para tornar a vida insuportável para os colonos israelenses que vivem do outro lado da rua.

Em Beita, perto de Nablus, ao norte da Cisjordânia, um território ocupado por Israel há mais de 50 anos, as manifestações palestinas contra a colônia “selvagem” de Eviatar têm sido constantes desde que cerca de 50 famílias israelenses se estabeleceram ali em maio.

Em um mês, quatro palestinos foram mortos em confrontos com o Exército israelense à margem desses protestos, e 300 ficaram feridos, de acordo com o Crescente Vermelho Palestino.

A maior parte das manifestações diurnas ocorreu às sextas-feiras, dia do descanso semanal, como no restante da Cisjordânia, onde também houve protestos contra os assentamentos israelenses – ilegais, conforme o direito internacional.

Mas, há alguns dias, os palestinos de Beita (17 mil habitantes), muitas vezes jovens, reúnem-se do anoitecer até o amanhecer para perturbar o sono dos colonos.

Quando o sol começa a envolver as colinas com uma luz rosa, dezenas de pneus queimam. O céu fica preto, e o ar, irrespirável.

Então, ao anoitecer, acendem pequenas fogueiras e tochas. Alguns apontam raios laser verdes para a colônia, e outros disparam fogos de artifício. E, até o amanhecer, cantam e gritam que esta terra é deles.

“Quando eles instalaram suas caravanas no sopé da colina, pensamos que ficariam por um ou dois dias”, diz Raad, um palestino com uma espessa barba preta. Mas, em menos de 48 horas, “instalaram mais de 20 casas móveis, o que significa que planejam ficar”.

Este jovem, que prefere não revelar seu sobrenome, diz que continuará lutando até que partam. “Essas caravanas não vão ficar em nossas terras”, insiste.

– “Isso não pode continuar” –

Cerca de 475 mil pessoas residem em assentamentos israelenses na Cisjordânia, onde vivem mais de 2,8 milhões de palestinos. Tensões e violência são constantes.

Embora todas as colônias sejam consideradas ilegais pelo direito internacional, em Israel, elas são divididas em duas categorias: as aprovadas por Israel e as que não são. Estas últimas, chamadas de “selvagens”, ou ilegais, geralmente são caravanas e casas precárias, situadas em encostas como Eviatar, em homenagem a um ator e colono esfaqueado por um palestino perto de Beita em 2013.

Um pequeno número de israelenses se mudou para lá depois que um palestino matou um jovem colono em maio nesta área.

O ministro israelense da Defesa, Benny Gantz, ordenou a evacuação, mas a decisão foi congelada pelo então primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O novo governo, dirigido pelo líder radical de direita Naftali Bennett, que já liderou uma organização de colonos, deve agora tomar uma decisão delicada.

A manutenção da colônia enfraquece a “possibilidade de paz futura” entre palestinos e israelenses, segundo a organização israelense anticolonização Paz Agora.

“Estamos vivendo em uma nuvem de fumaça cancerígena (…) Isso não pode continuar”, tuitou um colono de Eviatar, Tsvi Succot. “Fala-se em nos expulsar, em destruir nossa comunidade. É o povo deles [dos palestinos] que deve ser destruído”, acrescentou.

– “Guardiães da montanha” –

“Eles vão embora”, garante Ghaleb Abu Zeitun, um palestino de 77 anos, enquanto olha para a fumaça que sai dos pneus queimados.

“Esta ação pacífica vai obrigá-los a partir. É melhor do que um confronto físico, porque assim não perdemos nossos jovens”, acrescenta este homem que veste um típico kufiya, o lenço palestino de cor branca.

“Temos armas, poderíamos usá-las”, mas “o melhor dessa forma de resistência é que ela não é feita por uma facção palestina, mas pelos próprios moradores”, diz um jovem manifestante, com rosto e roupas cobertos de fuligem.

“Vamos continuar fazendo isso até que a fumaça chegue aos quartos deles!”, afirma, empurrando um pneu em direção ao fogo.

A maioria deles, alguns vestindo camisetas com as palavras “Guardiães da Montanha” impressas nas costas, esconde o rosto para não ser identificada pelos soldados israelenses. Cinco manifestantes foram detidos nos últimos dias.

E, quando os manifestantes se aproximam demais da colônia, o Exército se posiciona e lança gás lacrimogêneo.

Quando começa o amanhecer, todos vão para casa, até a noite seguinte.