Qual sua avaliação sobre o crescimento econômico global neste ano?
Acreditamos que o crescimento global neste ano será menor do que em 2021, mas estamos um pouco mais otimistas do que a média, por diversos motivos. Os mais importantes são o fim das restrições de oferta e as medidas de estímulo nas economias mais importantes.

Como assim?
Começando pelo fim das restrições de oferta. Esperamos uma reabertura gradual das atividades e uma mudança no perfil de consumo. Durante a pandemia, o consumo
se concentrou muito em bens. Agora, deve haver mais peso no setor de serviços.

E as medidas de estímulo?
O banco central dos Estados Unidos vai encerrar a injeção de recursos e sinalizou uma alta de juros. A política monetária deverá deixar de ser expansionista, mas
não chegará a ser contracionista. E o governo americano tem uma proposta de investimentos de longo prazo. No caso da China, os gastos públicos devem estimular a economia.

Há outras variáveis a ser consideradas?
Sim. A poupança acumulada nos Estados Unidos durante a pandemia permite prever um reforço na demanda, mesmo com a redução dos gastos fiscais. E o Banco Central Europeu (BCE) está mais confortável com relação à inflação do que o Federal Reserve, o que deverá postergar os ajustes na Europa para 2023.

Como ficam os países emergentes?
Os emergentes, a América Latina em especial, vêm tendo problemas com a desancoragem das expectativas de inflação. O Brasil é um bom exemplo. O Banco Central teve de elevar os juros ao longo de 2021 e deve continuar fazendo isso em 2022 para fazer a inflação convergir para a meta. Deveremos ver processos semelhantes no Chile, na Colômbia e no México.

Isso influencia a atração de investimentos estrangeiros?
No geral, investir em países emergentes será mais desafiador, especialmente para quem usa o juro americano como padrão de comparação. Mas é preciso perceber
as nuances. Aqui no Brasil nós não somos imunes à política monetária americana, mas a Selic está retornando aos dois dígitos, o que diminui o impacto. E ainda
há investidores com apetite para projetos de infraestrutura, como estradas e saneamento.