Os países muçulmanos urgiram nesta sexta-feira (18) o envio de “uma força de proteção internacional” aos Territórios Palestinos em uma cúpula em Istambul convocada pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que acusou Israel de recorrer a métodos usados pelos nazistas.

Os 57 membros da Organização de Cooperação Islâmica (OCI) pediram “proteção internacional para o povo palestino, inclusive com o envio de força de proteção internacional”, em um comunicado ao final da cúpula.

A OCI também condenou “as ações criminosas das forças israelenses nos Territórios Palestinos ocupados, e na Faixa de Gaza”, onde militares israelenses mataram na segunda-feira quase 60 palestinos que participavam de manifestações de protesto na fronteira com Israel pela transferência da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém.

O texto acusa a administração americana “de apoiar os crimes de Israel, inclusive protegendo-o no Conselho de Segurança da ONU”.

Também critica Washington pela transferência da embaixada, qualificando-a como um “ato de provocação e de hostilidade contra a nação islâmica”.

O grupo pede ainda à ONU a criação “de uma comissão de investigação internacional” sobre os incidentes de segunda-feira.

Ao começar a cúpula, Erdogan comparou as ações de Israel contra os palestinos em Gaza com a perseguição dos judeus pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

– Pedido de unidade –

“Não existe diferença entre a atrocidade sofrida pelo povo judeu na Europa há 75 anos e a brutalidade sofrida por nossos irmãos em Gaza”, explicou Erdogan.

Erdogan acusou os dirigentes “de um povo que sofreu todo tipo de torturas nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial” de atacar os palestinos “usando métodos similares aos dos nazistas”.

A Turquia exerce atualmente a presidência desta organização, que já havia se reunido em dezembro a pedido de Erdogan para condenar a decisão de seu homólogo americano, Donald Trump, de transferir a embaixada de seu país de Tel Aviv para Jerusalém.

Antes de abrir a cúpula, Erdogan admitiu para milhares de manifestantes reunidos no centro de Istambul em apoio aos palestinos que o mundo muçulmano “falhou na prova de Jerusalém”, ao não conseguir impedir a transferência da embaixada americana de Tel Aviv.

“A violência cometida (por Israel) em Jerusalém e na Palestina se explica pelas divisões e diferenças entre os muçulmanos”, acrescentou.

“Devemos nos sacrificar para defender nossos lugares santos. Se nos unirmos, Israel não poderá continuar”, acrescentou.

– Silêncio –

A reunião de Istambul ocorre quando o mundo muçulmano está minado por divisões e rivalidades que tornam pouco provável a instauração de qualquer medida concreta contra Israel.

A Arábia Saudita e seus aliados do Golfo, bem como o Egito, não veem com bons olhos o apoio da Turquia de Erdogan a movimentos como a Irmandade Muçulmana ou o Hamas, além do Catar, que tentam isolar.

Riad e seus aliados, que parecem ter diminuído suas posturas em relação a Israel, seriam mais reticentes a aderir a qualquer ação que pudesse irritar Washington, que espera o apoio para frear o Irã, uma potência xiita que veem como a principal ameaça na região.

Entre os chefes de estado que participaram da cúpula estavam o rei Abdullah da Jordânia, o presidente sudanês, Omar al-Bashir, seu colega iraniano, Hassan Rohani, e os emires do Catar e do Kuwait.

Rohani, durante seu discurso, criticou “o silêncio de alguns países”, sem o qual “os sionistas não teriam se atrevido a tal brutalidade”.

A reunião coincide com um momento em que Turquia e Israel trocam insultos e sanções diplomáticas desde o início dos incidentes em Gaza.

O embaixador de Israel na Turquia, Eitan Naeh, teve que deixar o país na quarta-feira a pedido das autoridades de Ancara.

Em seus discursos, Erdogan criticou veementemente o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmando que dirige um “Estado de apartheid” e tem “sangue” palestino nas mãos.

Netanyahu respondeu que não iria receber “lições de moral” de um dirigente que “entende perfeitamente o que é terrorismo e os massacres”.