Alexandre Magnani está há dois meses como coCEO do PagBank Pag Seguro, em um período de transição em que irá assumir totalmente o leme, ficando o executivo anterior que dirigia a operação, Ricardo Dutra, no Conselho de Administração e Executivo do PagSeguro Digital (PAGS). Não é um novo mundo para o paulistano casado há 23 anos e pai de dois filhos adultos. Ele atua no sistema financeiro e de pagamentos no Brasil e na América Latina desde 1994, com passagens por Credicard, Rede e Mastercard. A entrada no PagSeguro aconteceu em 2015. Na empresa pertencente ao UOL, participou da aquisição da licença bancária que criou o banco digital PagBank, em 2019, reposicionando a marca. “Não foram poucas conquistas nestes 15 anos. Saímos, em pagamentos, de 1% de marketshare em 2016 para 10% em 2021, e atendendo a um mercado brasileiro esquecido pelas grandes instituições, o do microempreendedor”, disse Magnani. Já são 22 milhões de contas correntes, com 13 milhões de clientes ativos. A criadora da maquininha amarelinha de cobrança tem se mantido fiel ao microempreendedor. Mas o momento é de mudança na indústria de serviços financeiros. Se ela seduziu os desbancarizados no passado, agora flerta com os que têm conta, mas buscam a simplicidade.

Desde 2019 vocês adicionaram uma nova marca à nomenclatura. Não seria mais fácil chamar de algo como PagTudo, que é um nome ruim, mas…?
(risos) Usamos PagSeguro desde 2006, quando a companhia foi criada. O nome disseminou e se consolidou e ganhamos reconhecimento de segurança e confiabilidade pelos brasileiros. Em 2019, quando lançamos nossa conta digital, então quisemos registrar esse marco para nossa história trazendo a marca PagBank.

É curioso como o UOL, um portal de notícias, lá atrás, resolveu entrar no mundo dos pagamentos eletrônicos.
Foi o momento. Havia duas transformações em curso: a rápida evolução da internet brasileira e a baixa penetração dos pagamentos eletrônicos, seja no mundo virtual ou físico. Como o UOL tinha uma longa credibilidade como empresa de conteúdo, produtos e serviços, o PagSeguro acabou nascendo com o mesmo DNA. E começou só como plataforma de pagamentos on-line. Com os anos encampamos uma missão, a de democratizar os meios de pagamentos e acesso a serviços financeiros, promovendo a inclusão de milhões de brasileiros em um país em que a indústria bancária é concentrada e com altas taxas. Lançamos a primeira maquininha de cartão com modelo de negócio sem aluguel e revolucionamos o mercado.

Quem vocês consideram seus maiores rivais, os bancos digitais, os tradicionais ou os cartões de crédito?
Nossos maiores rivais são o dinheiro em espécie e a burocracia.

Por que os grandes bancos, tradicionais, nunca se interessaram em criar maquininhas para pequenos empreendedores?
Bom, para atender microempreendedores e combinar crescimento com lucratividade é fundamental ter escala, canais de distribuição eficientes e a cultura digital. O PagSeguro era e é uma das poucas empresas que reúnem todas essas características.

No 3T21 vocês tiveram lucro líquido de R$ 418,7 milhões, segundo maior recorde da história da empresa, e praticamente o dobro de empresas como a Cielo, com R$ 211,9 milhões no mesmo período. Qual a fórmula para esse resultado?
Não há segredo. A estratégia é fazer mais com menos. Como fazemos isso? Compreensão das necessidades dos nossos clientes, muito trabalho, busca constante pela eficiência, diversificação dos nossos negócios com o PagBank e canais de distribuição on-line combinados com intenso uso de tecnologia que nos permite escalar nossos negócios de maneira rápida e eficiente. Somos um dos poucos unicórnios brasileiros que são lucrativos. Em janeiro de 2018, o PagSeguro abriu seu capital na New York Stock Exchange (Nyse) e fez
US$ 2,6 bilhões para financiar seu crescimento, sendo pioneiro e abrindo as portas para outras fintechs brasileiras e latino-americanas.

Existe uma resistência do cliente/consumidor em passar de bancos tradicionais para bancos digitais?
Essa resistência já é muito pequena e diminui a cada dia, pois as pessoas entenderam que os principais bancos digitais são confiáveis, práticos, sem burocracia e funcionam. Nas nossas pesquisas com clientes, o percentual de quem usa o PagBank como banco principal aumenta a cada mês. Obviamente que a resistência é menor no público mais jovem e mais da metade dos nossos clientes tem menos de 34 anos. Outro dado que corrobora essa adesão é o de que já temos mais de R$ 6 bilhões investidos pelos clientes na nossa plataforma de investimentos, a PagInvest. A adesão a bancos digitais é
um caminho sem volta, na nossa visão.

O Nubank é o primeiro em número de clientes no Brasil, com 41 milhões. Mas só recentemente ele começou a dar lucro. Por estar ligado ao PagSeguro, o PagBank tem um caminho mais seguro e lucrativo?
Acho que é nossa missão democratizar os serviços financeiros. Nosso ecossistema combina diversas fontes de cash in (adquirência, depósitos, transferências eletrônicas, PIX, investimentos, entre outros) e cash out (cartões, transferências eletrônicas, PIX, compras no shopping PagBank, recargas de celular, pagamento de contas, pagamento de impostos, entre outros). Elas convivem lado a lado e se retroalimentam. Nossa filosofia de investimento, gestão e alocação de recursos consiste em sempre buscar o equilíbrio entre crescimento e lucratividade, tanto que somos uma das pouquíssimas fintechs lucrativas desde 2015.

Mas existe a vantagem de serem dois negócios…
Sim. Um dos caminhos virtuosos para desenvolver nossa atividade bancária é ter um braço de pagamentos que garanta os depósitos em nossa conta digital. Em maio de 2019 ampliamos nossa oferta da conta digital também para consumidores e entendemos que garantir uma fonte de depósitos, seja pela adquirência, seja por investimentos, seja por transferências eletrônicas ou portabilidade de salário, aumenta as nossas chances de engajamento e encantamento dos clientes. Isso sem contar nosso crédito competitivo e sem burocracia.

O que esperam para 2022 e para os próximos anos?
Nosso foco nos últimos anos foi estritamente nos clientes desbancarizados do País. Agora, temos uma conta digital completa, com débito automático, DDA, coleta de impostos, parcerias com plataforma de jogos, um marketplace e inúmeras opções de investimentos e seguros. Entendemos que, além dos desbancarizados, vamos servir os clientes bancarizados que buscam uma experiência mais simples,
sem burocracia e sem taxas.

Quando você olha em uma avenida uma agência bancária física, o que pensa?
Elas ainda cumprem um papel social, que é o de servir a uma parcela da população que está fora ou à margem da transformação digital. Mas vale lembrar que a pandemia foi um divisor de águas na inclusão de milhões de pessoas no universo das instituições financeiras digitais, que foram participantes importantes na distribuição de recursos emergenciais do governo federal, pagos às famílias em situação de vulnerabilidade social. A geração atual é nativa digitalmente e cada vez mais vão exigir a experiência simples, responsiva, na palma da mão.