A possibilidade de uma nova onda da covid-19 atingir o mundo acendeu sinal de alerta em diversos países. Na Europa, lockdowns estão sendo adotados para tentar frear a contaminação pelo vírus, que tem aumentado diariamente. Estados Unidos seguem com o mesmo problema, número de casos batendo recorde diários. Para especialistas, o Brasil tem muito a aprender com o que está acontecendo naqueles países.

Ivan França, infectologista do A.C.Camargo Cancer Center, avalia que o País tem uma grande oportunidade de aprender com o que está acontecendo tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. “Na primeira onda, nós não nos preparamos da melhor forma possível. Agora temos a chance de aprender com o que está acontecendo por lá”, diz.

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O comportamento dos casos na Europa e nos Estados Unidos seguem a mesma tendência, com os locais menos afetados na primeira onda concentrando agora o maior número de vítimas. Esse padrão pode sinalizar o que tende a acontecer também por aqui.

Segundo informações da Folha, os dez estados norte-americanos que mais sofreram com o vírus no primeiro semestre, como Nova York e Nova Jersey, por exemplo, hoje concentram 13% do total de óbitos. Na Europa, a situação é semelhante. Países mais afetados na primeira onda atualmente registram 1/5 das mortes em relação ao pico e 40% das hospitalizações.

Usando o comportamento das curvas de óbitos em outros países, o Brasil pode se preparar para o que pode ocorrer nos próximos meses. Se os padrões norte-americano e europeu forem mantidos, regiões e municípios brasileiros menos afetados no começo devem se preocupar mais com o aumento de casos e deixar estruturas, especialmente hospitalar para a chegada de uma segunda onda da covid-19.

França comenta que o que está ocorrendo na Europa e EUA, com mais casos em locais que foram menos afetados no primeiro semestre, provavelmente é porque há hospedeiros suscetíveis nessa região. De acordo com ele, o mundo ainda não atingiu a chamada imunização por rebanho. No entanto, locais que já tiveram muitos casos acabam quebrando a cadeia de transmissão.

“Não podemos baixar a guarda. O Brasil tem uma situação bastante parecida com os Estados Unidos, se mantendo em um platô bastante alto. Espera-se que haja uma segunda onda também por aqui, resta saber quando e o impacto”, afirma França.

Carlos Magno Fortaleza, vice-presidente da Sociedade Paulista de Infectologia e professor da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu (SP), concorda que não é hora de reduzir os cuidados. “Não podemos relaxar”, enfatiza.

Ele explica que alguns países europeus fizeram um lockdown muito intenso lá no primeiro semestre, o que reduziu os casos de covid abruptamente. Só que essa medida sem que a população ficasse imune abriu uma porta para a entrada de uma nova onda por lá. “Aqui não tivemos lockdown, apenas isolamento.”

Com isso, os brasileiros ficaram mais expostos e isso pode diminuir o impacto de uma segunda onda”, diz. No entanto, ele comenta que esse impacto menor só será possível se houver equilíbrio entre parte imunizada da população com parte que continua tomando todos os cuidados.  “Se algo neste equilíbrio se desfizer, com certeza teremos uma segunda onda com impacto bastante intenso.”

Márcio Sommer Bittencourt, médico e professor da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, lembra que a dinâmica de contaminação deste vírus é bastante complexa e, por isso, não se pode levar apenas um fator em consideração para avaliar o padrão dos novos casos. Para ele, o Brasil ainda está em um platô muito alto da doença.

“É uma má ideia achar que isso vai se resolver por conta própria”, diz, ao comentar que a flexibilidade do isolamento social e a chegada do inverno na Europa podem ter contribuído para este cenário de aumento dos casos.

“A lição que podemos tirar é que medidas como distanciamento social, uso de máscara e álcool em gel, quarentena de contato e testes são fundamentais”, finaliza.