Há um rolo compressor sendo forjado na Esplanada dos Ministérios, com poder para provocar grande impacto na economia. Em praticamente todos os edifícios do centro de comando do governo federal, os ministros recém-empossados e seus assessores desenham um verdadeiro pacote de medidas emergenciais que serão anunciadas já nos próximos dias. As mais esperadas são as decisões que virão do novo ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Sob a sua orientação, a equipe econômica assumiu com a intenção de aumentar espontaneamente a meta de superávit primário acertado com o Fundo Monetário Internacional, hoje em 3,75% do PIB. ?Vamos fazer o superávit necessário para estabilizar a dívida pública?, prometeu Antônio Palocci em seu discurso de posse. Já há pistas a respeito. Nos bastidores do governo, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, defende um aumento substancial da meta como principal medida para conter o atual  surto inflacionário. Seria mais que uma demonstração de boa vontade do governo em relação ao mercado. De imediato,  acredita Meirelles, acarretaria a queda do dólar, das expectativas de inflação e dos juros. A sugestão de Meirelles é buscar um superávit próximo a 4,5% do PIB.

Antes mesmo de assumir seus gabinetes, na tarde de quinta-feira 2, integrantes do time de Palocci já iniciavam os estudos para definir a nova meta. Faziam-se projeções de até 5% do PIB. O grande limitador é a exigência do Palácio do Planalto de garantir pelo menos R$ 2,5 bilhões para o projeto Fome Zero. Para isso, a meta precisaria estar no patamar de 4%, segundo apontam as primeiras projeções. ?Nosso primeiro ato na Fazenda é encontrar recursos para combater a fome?, prometeu Palocci. Do sucesso dessa missão depende a credibilidade do presidente, que vestiu a faixa sob o peso da promessa de acabar com a fome. Guido Mantega assumiu o Planejamento também com outro pacote delicado a desembrulhar: preparar, em sintonia com Palocci e Meirelles, a revisão de emergência do Orçamento da União. A peça aprovada pelo Congresso prevê uma inflação de 7% em 2003 e o dólar a R$ 2,80.
O governo conseguiria folga de recursos para investimentos se fizer um orçamento mais realista, considerando a alta da inflação e do câmbio. São dois fatores que aumentariam a arrecadação nominal de recursos, mantendo estáveis a maior parte das despesas, como a folha de pagamentos do funcionalismo público. Os números cogitados são de projetar o Orçamento com inflação de 9,5% e dólar a R$ 3,30. Isso criaria uma folga de caixa de cerca de R$ 10 bilhões, segundo as primeiras projeções. Também permitiria aumentar a meta de superávit primário, como quer Meirelles. O temor na nova equipe econômica é que o mercado interprete essa revisão como um sinal de que o governo estaria usando a inflação para criar sobra de caixa. Há ainda uma medida essencial a ser acertada nos próximos dias com o FMI ? alteração dos critérios contábeis da meta de superávit primário. Assim, os gastos com o Fome Zero, por exemplo, seriam considerados despesas financeiras, não afetando o cumprimento da meta de superávit.

Fora da Fazenda e do Planejamento, os demais ministros também assumiram anunciando novidades. No Palácio do
Planalto, José Dirceu chegou ao Gabinete Civil mandando que todos os ministérios e órgãos públicos cortem 10% dos cargos de confiança, que têm salários mais altos e gratificações. Nas Minas e Energia, Dilma Roussef prometeu reduzir o poder das agências reguladoras do setor e criar mecanismos que reduzam o impacto na inflação do aumento do preço internacional dos combustíveis. Um deles é o uso da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, a Cide, cobrada sobre os combustíveis, para manter os preços estáveis. A idéia é simples. Quando os preços do petróleo subirem no mercado internacional, o imposto será menor. Quando o barril cair, o imposto subirá. ?Não haverá controle de preços, mas o uso de todos os meios para conter a volatilidade do mercado internacional?, disse a ministra Dilma.