Em tempos de campanha, o governo quis costurar um arrazoado de medidas já em curso, colocar tudo junto e vender como movimento novo para passar a ideia de estar se mexendo. Faz parte do show. Em lançamento mesmo, apenas a antecipação de aposentadorias e pensões, além da liberação de recursos do FGTS, para renovar o espírito de eleitores duvidosos sobre a recondução do mandatário para mais quatro anos no cargo. O clássico populismo no ardil para iludir incautos. Na ponta da produção, como alento ao empresariado, descontos no IPI e crédito facilitado. Misturando os ingredientes, o governo somou números que alcançam os R$ 150 bilhões e batizou a ideia com a alcunha de pacote de bondades. Ninguém soltou rojões ou está levando a sério. Com uma inflação na casa dos dois dígitos e juros idem, economia paralisada, desemprego indecente e miséria crescente, há pouco a comemorar. O legado de desgraças geradas é bem superior. Caso Bolsonaro esteja esperando por melhora na avaliação da imagem com essa pajelança de gororoba, seria de bom tom esperar sentado. Os riscos fiscais no horizonte são muitos. Os estímulos e renúncias anunciados não atendem por completo às expectativas. Os efeitos altistas quanto à carestia entraram na ordem do dia. Com a guerra da Rússia e Ucrânia, o fator preço dos combustíveis virou uma espada pesada sobre a cabeça de todo mundo. Há uma deterioração evidente dos indicadores. O governo minimiza até o problema das contas públicas com o estouro do teto e a distribuição sem freio de recursos a parlamentares. A intenção de turbinar a economia soa como lorota, mesmo porque as reformas não saíram – não devem andar – e as privatizações entraram em modo de ponto morto. Os movimentos de campanha eleitoral e do conflito internacional são variáveis nada desprezíveis para influir nos investimentos, deixando as empresas mais desconfiadas e temerosas de arriscar. Não existe, definitivamente, um banho de R$ 150 bilhões em dinheiro novo na praça. Conversa para enrolar trouxa. A atividade econômica vem perdendo fôlego e a produção pode recuar ainda mais neste ano. Os analistas estão refazendo os cálculos do PIB, para baixo, semanalmente. O cenário é incerto e mesmo injeções como a do Auxílio Brasil não foram capazes de recuperar renda a bom termo. O quadro do momento é classificado como de estagflação, com as cadeias logísticas e de suprimentos praticamente paradas, até por falta de insumos. Como exatamente se animar com encenações políticas do mandatário que atua no atacado frente aos problemas de toda a natureza no varejo? O Ministério da Economia chegou a zerar o imposto de importação de seis alimentos da cesta básica, além do etanol, para conter o furor inflacionário. Do café ao óleo de soja, são poucas as commodities beneficiadas com o desconto que vigora apenas até o final do ano (ou com a abertura das urnas, para ser mais específico). O impacto nos cofres públicos é calculado em R$ 1 bilhão, mas essa bala de prata pode sair pela culatra com a alta do custo justamente desses itens verificada mundo afora.

Carlos José Marques Diretor editorial