A segunda-feira, 15 de outubro, vai ter um significado especial na vida da paulistana Marina Helou. Aos 31 anos, ela trocará a carreira em uma grande empresa pelo setor público. Nesse dia, aconteceria o seu desligamento da área de sustentabilidade da Natura, a gigante brasileira de cosméticos que tem valor de mercado de R$ 12 bilhões. Eleita deputada estadual pela Rede, com quase 40 mil votos, Marina passará a ocupar uma das cadeiras da Assembleia Legislativa de São Paulo. A mudança não é acidental. Formada em administração pública pela FGV, ela candidatou-se pela segunda vez neste ano. Em 2016, tentou uma vaga como vereadora e conquistou pouco mais de 16 mil votos.

Foi a 75a mais votada, mas ficou de fora em razão de o partido não ter atingido o quociente eleitoral. Desta vez, Marina uniu a experiência de uma eleição ao trabalho de formação do RenovaBR, o movimento apartidário de formação de lideranças políticas criado por um grupo de empresários em outubro do ano passado. “Além da base e do planejamento da campanha, a maior riqueza do Renova foi a rede de pessoas em todo o País”, diz ela, que desde 2015 também participa da Raps, uma ONG que trabalha pela melhoria do processo político. “Na Natura, o acordo era claro. Não haveria apoio nem campanha interna, além de eu ter ficado de licença não-remunerada em 2016 e neste ano.”

Sangue novo: Alessandro Vieira (Rede, primeiro à esq.) foi o senador mais votado em Sergipe, enquanto que Marina Helou (Rede) e Vinicius Poit (Novo) foram eleitos deputados estadual e federal, respectivamente, por São Paulo. Em comum, eles participaram do RenovaBR, que busca a qualificação do Congresso

Marina é um exemplo do objetivo traçado pelo RenovaBR há um ano: promover a renovação da política brasileira com a qualificação do Poder Legislativo. Entre janeiro e junho deste ano, 132 pessoas participaram do processo de formação, com aulas sobre gestão e finanças públicas, ética e reforma política, marketing entre outros temas. Dessas, 120 registraram sua candidatura, por 22 partidos diferentes, e 16 conseguiram se eleger, como os deputados federais Tabata Amaral (PDT), a 6a mais votada em São Paulo, e o ex-nadador Luiz Lima (PSL), o 8o colocado no Rio de Janeiro. Ao todo, os candidatos que participaram do movimento tiveram 4,5 milhões de votos. “Estamos muito satisfeitos com a qualidade dos que foram eleitos”, afirma Eduardo Mufarej, cofundador do RenovaBR. “Tem uma renovação acontecendo. Ela pode ser boa ou ruim, mas os líderes do Renova vão fazer esse processo seguir em frente.”

Antes das eleições, a expectativa era de uma renovação moderada na política, de menos da metade do Congresso. Mas o resultado surpreendeu. Das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados, 243 serão ocupadas por novatos. O índice de renovação de 47,3% é o maior desde 1998. No Senado, apenas 8 das 54 vagas que estavam em disputa ficaram com quem buscava a reeleição. Entre os estreantes está Alessandro Vieira (Rede), que foi eleito senador por Sergipe, com 474,5 mil votos. Em sua primeira tentativa, ele desbancou nomes conhecidos da política local, como o ex-governador Jackson Barreto (MDB) e Antônio Carlos Valadares (PSB), que tentava a reeleição. “O Renova me ensinou a fazer uma campanha com base no voluntariado e com um gasto de cerca de R$ 70 mil, vindos de doações”, afirma Vieira. “A mudança na política só acontecerá com a qualificação do Congresso.”

Agora, o RenovaBR prepara um curso para os congressistas eleitos. A ideia é que eles continuem amparados pelo movimento para aperfeiçoar o modelo de representação. “Um empreendedor que não ouve os clientes não vai a lugar nenhum. É assim também na política”, diz Vinicius Poit, fundador da plataforma digital Recruta Simples e deputado federal em São Paulo, eleito pelo Partido Novo. “Esse módulo do Renova para o mandato vai ajudar a ter resiliência e mais engajamento.” Em 2019, enquanto senadores e deputados começam a defender os seus propósitos, o RenovaBR dará início a uma nova formação de políticos. “O objetivo é ter uma safra de novas lideranças por ano, independentemente da eleição”, diz Mufarej.