O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca para a China no próximo dia 26 de março, ao lado de ministros, lideranças do Congresso Nacional e cerca de 200 empresários interessados nos rumos do encontro bilateral.

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De acordo com o Itamaraty, Lula deve chegar a Pequim para encontrar o premiê chinês, Li Qiang e o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji. Comércio, investimentos, reindustrialização e clima estão na lista de pautas da viagem presidencial.

Para o professor e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil/China da FGV Direito Rio, Evandro de Carvalho, a preparação da viagem está aquém do necessário para relações com o país asiático. Porém, o encontro é fundamental para sinalizar que o governo Lula 3 quer estabelecer relação em nível presidencial. 

“Isso foi perdido no governo Bolsonaro em função das crises políticas na relação com a China geradas pelo ex-presidente e seu filho Eduardo Bolsonaro”, explica o professor, que recordou que uma das consequências da crise foi a ausência de porta-voz na Embaixada da China por alguns meses. 

Em março de 2020, o então embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, usou as redes sociais para exigir retratação de Eduardo Bolsonaro, que culpou o país como origem da pandemia do coronavírus na época. A declaração do filho do ex-presidente estremeceu a relação amistosa entre os países. 

Quem vai? 

Conforme apurado pelo Estadão, as vagas na comitiva estão disputadas, e seguem confirmados junto a Lula: 

–  Jorge Viana, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil);

– Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais;

 Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);

– governadores e cerca de 6 ministros, como o chefe da Fazenda, Fernando Haddad, e Marina Silva (Meio Ambiente);

– representantes dos setores de infraestrutura, agronegócio, alimentos, roupas e calçados, telecomunicações e inovação digital. Entre as empresas citadas, aparecem a JBS, Marfrig, Vale, Embraer, Suzano e os bancos Bradesco e Marka;

– Arthur Lira (PP), Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Renan Calheiros (MDB), entre outros parlamentares do Congresso Nacional.

O que Lula pretende com a viagem?

Para o coordenador do Núcleo de Estudos Brasil/China da FGV Direito Rio, a prioridade é a  busca de uma relação que no plano do comércio internacional amplie novas possibilidades de exportações para empresas brasileiras. 

“É uma preocupação antiga do Brasil de diversificar a pauta de exportação, que tem como obstáculo não o interesse da China em comprar mais produtos brasileiros, até porque o país tem sinalizado para o mundo que quer importar mais; o problema é que não temos produtos de valor agregado que tenham preços competitivos e de boa qualidade para despertar interesse de compradores chineses”, avalia. 

“No último ano, alcançamos um recorde na balança comercial com a China e, neste sentido, não há como pensar em vantagens na política externa sem passar necessariamente pelas relações sino-brasileiras”.

“Para além da esfera comercial, o Brasil apresenta também interesses em itens tecnológicos e na posição da China em temas como o meio ambiente e a guerra da Ucrânia”, defende Christopher Mendonça, cientista político e professor de Relações Internacionais do Ibmec BH.

Comércio Brasil e China

A relações comerciais entre Brasil e a China são, sobretudo, de produtos primários: metais, produtos de agro exportação e pecuária.

“Há no setor tecnológico alguns acordos que podem ser benéficos para os dois países como o setor das comunicações (exemplo da tecnologia 5G) e do lançamento de satélites. A parceria entre os dois países pode ter ganhos importantes por possibilitar uma maior vigilância de nossas fronteiras e também ferramentas importantes para o agronegócio”, diz Mendonça.

O ex-ministro Celso Amorim já sinalizou que a questão climática é um dos focos de Lula na China, mas sobre isso, avalia Carvalho, há pouca informação para detalhes. Outros possíveis interesses do governo brasileiro podem ser na área de Tecnologia e Inovação.

“Até o momento não há clareza da agenda prioritária do Brasil em relação à China, os projetos concretos; apenas os que poderiam ser importantes para o desenvolvimento do país e que a China poderia ser um vetor essencial de parceria”, completa o professor da FGV. 

Qual o interesse em viajar com empresários?

Conforme mostrou a Istoé Dinheiro essa semana, executivos do mercado financeiro estão insatisfeitos com os rumos da economia no governo Lula. Na pesquisa “O que pensa o mercado financeiro”, divulgada na quarta-feira (15) pela Genial/Quaest, 98% do mercado não concorda com a condução da política econômica.

“Lula não tem tido bons dias com o mercado nesses primeiros meses de mandato. Certamente a participação de importantes empresários na comitiva presidencial tem o objetivo de sinalizar o diálogo do governo com o setor produtivo”, afirma Mendonça.

E com nomes como Arthur Lira, líder na Câmara e (ex) desafeto de Lula?

Para o professor do Ibmec, boas relações entre o Executivo e o Legislativo passam, necessariamente, pelos temas econômicos. “Dar chances aos deputados e senadores de participar da pauta do comércio internacional brasileiro sem dúvidas é uma forma de garantir a governabilidade. Acordos com grande participação da sociedade tendem a ser mais legítimos. Neste sentido o presidente acerta em criar uma comitiva participativa de diversos setores produtivos”, defende.

Vale lembrar, por exemplo, que um dos temas possíveis a serem debatidos entre Lula e aliados nos próximos dias é o arcabouço fiscal, que Haddad garantiu estar na mesa do presidente desde o começo da semana. “Lula é um político experiente e sabe que não pode desperdiçar ou dispensar apoios nesta primeira fase do seu terceiro governo”, finaliza o professor.

Lula vai à China