Uma das principais atrações das feiras de máquinas agrícolas, como a Agrishow, de Ribeirão Preto (SP), é a demonstração de tecnologia embarcada ­— cada vez mais — nesses equipamentos. Qualquer aglomeração em estande de montadora é sinal de que ali pode estar a sensação da nova safra e objeto de negociações milionárias. Os visitantes buscam tratores, colheitadeiras, plantadeiras e pulverizadores que lhes garantam a melhor performance em produtividade no campo, redução de custos e sustentabilidade. Essa é uma das razões pelas quais a gigante global do setor Agco decidiu investir R$ 340 milhões até 2024 no Brasil, um de seus principais mercados.

Esse dinheiro vai garantir a ampliação e a modernização de fábricas, o fortalecimento das tradicionais marcas Massey Ferguson e Valtra, ambas há mais de 60 anos no País, e a abertura de espaço para a caçula Fendt, que chegou em 2019 e já tem o Brasil como um campo fértil para projeção. Tanto que as 11 lojas da nova marca abertas na América Latina estão aqui. A meta é dobrar esse número até dezembro e avançar por todo o País nos próximos dois anos. Até pelo potencial da agricultura brasileira, quase 70% da rede de distribuição do grupo como um todo em terras latino-americanas está no Brasil — são 375 unidades. “Estamos focados em aumentar o número de distribuidores, com a certeza de crescer primeiro em qualidade, depois em quantidade”, afirmou à DINHEIRO o chairman e CEO global da Agco, Eric Hansotia.

Steve Glass

“Quanto melhor entendermos as demandas dos agricultores e oferecermos soluções mais inteligentes, maior será seu interesse em nosso portfólio” Eric Hansotia CEO global da Agco.

Parte do investimento servirá para aumentar de 7 mil m2 para 20 mil m2 a área da unidade de Ibirubá (RS), onde foi desenvolvida a plantadeira Momentum, da Fendt, projeto 100% brasileiro que se tornou um dos principais lançamentos do grupo. Hansotia cita a máquina inclusive para explicar como pretende elevar a receita líquida de vendas global de 2021, em US$ 11,1 bilhões, para US$ 12,5 bilhões neste ano, e seguir avançando. “Quanto melhor entendermos as demandas dos agricultores e oferecermos soluções mais inteligentes, maior será seu interesse em nosso portfólio”, afirmou.

Outra unidade a ser ampliada é a de Mogi das Cruzes (SP), que passará de 42 mil m2 para 57 mil m2. O objetivo é transformar essa fábrica em uma das mais tecnológicas do grupo no mundo. Além de elevar a potência na montagem de tratores da linha pesada, a empresa criará um centro logístico inteligente para armazenamento de peças e atender os clientes com mais agilidade.

FUTURO O próximo salto tecnológico no portfólio da Agco deve surgir em pulverização. Ao menos na opinião do CEO da empresa. Segundo Hansotia, ainda é comum o agricultor lançar defensivos agrícolas em toda a lavoura para combater as plantas daninhas. Essa pontaria pode ficar mais certeira com o uso de sistemas inteligentes, equipados com câmeras que analisam o campo e direcionam o ataque apenas sobre as plantas invasoras. Para o executivo, esse avanço gera redução de custos e ainda equilibra a relação entre produtividade e sustentabilidade. “Pode haver uma economia de até 78% no uso de insumos químicos sobre a lavoura”, disse.

A Agco também mira em novos campos. A partir de uma parceria com o Rabobank, a empresa prepara sua entrada no mercado de crédito de carbono. O negócio está na fase de entendimento de oportunidades e obrigatoriedades. “Estamos aprendendo como reduzir as barreiras e facilitar o acesso dos produtores ao segmento”, afirmou Hansotia. Segundo ele, é importante deixar mais claro para os clientes as práticas agrícolas a serem respeitadas e como verificar se de fato ocorre o sequestro de carbono no solo.

A busca por negócios mais sustentáveis parte de dentro para fora. Já em 2022, os 42 mil MWh consumidos por ano nas operações brasileiras têm de vir de fontes renováveis. A mudança é parte da estratégia global da Agco de reduzir em 20% as emissões de gases de efeito estufa e chegar a 60% de energia renovável. A sintonia com a preservação ambiental é obrigatória para fertilizar o terreno de qualquer negócio.