A saída do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, consolidou no mercado uma impressão que já crescia dia a dia: no governo, há chance zero do programa de privatizações e do plano liberal da economia ir à frente. Isso já havia ficado mais ou menos subentendido quando Salim Mattar, então secretário de Desestatização, e Paulo Uebel, assessor da economia que cuidava da Reforma Administrativa, deixaram seus postos. A Eletrobrás estava na linha de frente, como joia da coroa, a ser vendida – e Wilson Ferreira era quem cuidava diretamente do processo. Foi atropelado pelos fatos e evidências, e decidiu pedir o boné. Segue para assumir o posto de CEO na BR Distribuidora, que não está no radar das vendas. O fim das ilusões com as estatais brasileiras marca também uma certa frustração sobre o aumento da boa governança nessas empresas públicas. Wilson Ferreira, que foi escolhido para o posto na Eletrobrás ainda na gestão do presidente Temer, emprestava o tal verniz de iniciativa privada dentro da gestão declarada (indevidamente) de liberal do governo Bolsonaro. Era o fio de esperança de transformação no eixo do conjunto considerado como a tríplice coroa ou B3 do Estado: Petrobras, Eletrobrás e Banco do Brasil. Sua saída mina também a aposta na capitalização, necessária, da companhia. Ela, como as demais nessa gestão onde qualificação técnica é desvalorizada, fica ao Deus dará. Tanto nesse caso como nos demais, não se trata apenas de privatizar. Ninguém acredita que a atual administração vá se preocupar daqui para frente sequer em manter minimamente o saneamento das contas das autarquias e companhias públicas. Em 2016, houve aprovação da Lei 13.303 que trata da governança das estatais, afastando indicações de políticos como administradores, exigindo cumprimento de orçamentos limpos e lucrativos e outros princípios. No governo Bolsonaro, a flexibilização nesse sentido está em andamento. No Planalto, a palavra de ordem é: agradar o presidente. Qualquer gestor precisa estar em linha com os desejos do capitão. Foi pelo mesmo motivo que, semanas atrás, André Beltrão, oriundo da iniciativa privada e que seguiu para a presidência do Banco do Brasil, entrou em um processo de fritura por pretender tornar a instituição mais eficiente e enxuta. A preocupação da praça financeira não é com o evento da Eletrobrás exclusivamente, mas com a sucessão de eventos assim. A Petrobras, por exemplo, está com uma defasagem na variação dos preços dos combustíveis e o presidente Bolsonaro insiste em desconsiderar o problema em prol de sua agenda política. Na semana passada, isentou o imposto de importação de pneus por pressão direta dos caminhoneiros. O diesel acumula 20% de defasagem. O GLP está com o valor represado desde o ano passado. A “maleabilidade” na gestão das contas da Petrobras é possível graças à já demonstrada adesão do atual comando. No caso da Eletrobrás, como no BB, era diferente.

Celso Masson diretor de núcleo