Os juros futuros ampliaram a queda e renovaram mínimas durante a tarde desta terça-feira, 23, refletindo o aumento do otimismo com a possibilidade de vitória do governo na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para votação do parecer do relator Marcelo Freitas (PSL-MG) pela admissibilidade da reforma da Previdência. A perspectiva de aprovação cresceu após o fechamento de um acordo com lideranças da Câmara, a partir da modificações propostas pelos deputados do Centrão acatadas pelo relator. O recuo das taxas se deu ainda em meio às expectativas cada vez mais pessimistas para o crescimento da economia neste e no próximo ano.

O volume de contratos, que na segunda foi baixo, nesta terça se normalizou e as principais taxas fecharam nas mínimas desde o último dia 21 de março. A melhora na percepção de risco político foi mais visível na ponta longa, em que as taxas recuaram cerca de 10 pontos-base. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020 fechou a etapa regular a 6,465%, de 6,490% na segunda no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 7,011% no ajuste de segunda para 6,960%. A taxa do DI para janeiro de 2023 caiu de 8,202% para 8,12%. A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou na mínima de 8,65%, de 8,752%.

As taxas começaram o dia com queda moderada, refletindo um alívio com a notícia de que os caminhoneiros descartaram uma paralisação no próximo dia 29 – que seria nova ameaça à atividade – e a expectativa com a CCJ, mas a trajetória descendente ganhou força mesmo com o acordo para a votação da reforma, à tarde. O relator aceitou modificar em seu parecer quatro pontos pedidos pelos parlamentares, o que elevou a chance de que a matéria seja liquidada nesta terça mesmo na CCJ. As alterações não afetam a potência fiscal do projeto, que, originalmente, prevê economia de R$ 1,1 trilhão em dez anos, mas que dificilmente se manterá quando a discussão passar à comissão especial. Esta será instalada na próxima quinta-feira (25).

Na leitura do mercado, a aprovação da reforma da Previdência é fundamental para a recuperação da atividade, na medida em que deve resgatar a confiança dos empresários para investir e atrair fluxo de capital para o Brasil ao indicar melhora nas contas públicas. “O mercado esperava um vetor mais positivo, mas parece haver uma letargia do governo nesta questão da atividade, independentemente do problema da Previdência”, disse o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno.

Apesar da fraqueza da economia, o cofundador e economista-chefe da consultoria internacional Gavekal Research, Anatole Kaletsky, vê o Brasil e outros emergentes como os mercados mundiais mais beneficiados pela esperada saída de capital dos Estados Unidos em busca de maior retorno, em detrimento, por exemplo, dos países da Europa, região que também está enfraquecida. “Estamos entrando em um período onde os mercados emergentes vão ter desempenho significativamente superior, em termos de ações, bonds e moedas”, afirmou Kaletsky em evento do Itaú Unibanco.