São Paulo, 8 – Os preços remuneradores da soja e do milho, exportações volumosas de commodities agrícolas e boas perspectivas para o setor fizeram com que incertezas quanto à pandemia da covid-19 tivessem um peso relativo na tomada de crédito do Banco do Brasil (BB), cujos desembolsos cresceram em março para as safras 2019/20 e 2020/21. Foram R$ 6,92 bilhões liberados apenas para a temporada atual, 38% a mais que em março de 2019. Do total, R$ 3,88 bilhões se destinaram ao custeio, 55% acima dos R$ 2,5 bilhões desembolsados há um ano, segundo o vice-presidente de Agronegócios e de Governo do BB, João Rabelo. Além disso, R$ 1,1 bilhão foi liberado para pré-custeio do ciclo 2020/21, de R$ 15 bilhões anunciados BB em fevereiro.

“As principais cadeias do agronegócio brasileiro vivem um bom momento: temos soja com preço próximo de R$ 90/saca, soja futura por R$ 85 a R$ 86/saca, milho com máximas históricas, reação dos preços da carne, café com cotações remuneradoras e exportações ocorrendo, com poucos gargalos”, explicou Rabelo ao Broadcast Agro, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Ele destacou, ainda, que os desembolsos para o pré-custeio foram “um pouco melhores” do que há um ano, sem detalhar os números de 2019. “No mês passado começaram os desembolsos (do pré-custeio), devem ganhar força, mesmo, em abril e maio”, disse o executivo.

Uma medida que tem contribuído para o andamento dos processos, tanto de custeio como de pré-custeio, segundo Rabelo, é a dispensa temporária de apresentação, pelos produtores, de garantias registradas em cartório – fechados em virtude da pandemia da covid-19. “Só vamos exigir garantias registradas, como penhor rural, penhor de safra, lá na frente, quando esse problema (da pandemia) se resolver. Isso tem ajudado a destravar os financiamentos”, comentou ele.

Entre os cadeias que estão sendo atendidas nesta safra 2019/20 estão a de grãos e cereais de inverno, pecuária bovina e leiteira, suinocultura e de culturas de ciclo curto, como verduras e legumes. Outro elo do agronegócio que demandou mais crédito no mês passado foi o do cooperativismo. Para o segmento, o BB liberou aproximadamente R$ 2,5 bilhões, em comparação com cerca de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão em março de 2019, de acordo com o executivo.

Para investimentos, o BB desembolsou em março R$ 1,43 bilhão. O volume emprestado especificamente para financiamento de máquinas agrícolas, contudo, foi um pouco menor do que há um ano, conforme Rabelo. “Temos recebido bastante demanda para recuperação de pasto, programa ABC, estruturas de armazenagem”, disse. Com juros controlados, o BB ainda tem um saldo de pouco mais de R$ 1 bilhão disponível para investimentos. “Na nossa avaliação, esse montante vai ser justo para atender às demandas até maio ou junho.”

Ainda no mês passado, o BB liberou R$ 1,07 bilhão para comercialização e industrialização e R$ 540 milhões em CPRs e capital de giro. Nestes casos, Rabelo não tem observado grande apetite por recursos para esses segmentos. “Para capital de giro não notamos grande diferença na procura. As cooperativas pediram um pouco mais do que no ano passado mas, de modo geral, o agro está indo muito bem, gerando riquezas”, comentou ele. “Já nas linhas de comercialização temos percebido uma leve redução (na demanda)”, acrescentou.