Por Gram Slattery

(Reuters) – No ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro retirou o CEO da Petrobras em meio a uma disputa sobre os preços dos combustíveis no país, a reação do mercado foi de fúria.

As ações preferenciais da empresa caíram 22% em um dia. Analistas rapidamente rebaixaram uma série de notas brasileiras, de bancos estatais à dívida soberana. Muitos investidores temiam que a empresa voltasse às políticas vistas em governos anteriores, quando a Petrobras subsidiava os brasileiros na bomba, incorrendo em bilhões de dólares em perdas.

Pouco mais de um ano depois, a história ameaça se repetir –mas os investidores reagiram com desdém.

Na semana passada, Bolsonaro reclamou que a Petrobras é lucrativa demais e deveria fazer um sacrifício para manter os preços baixos. O presidente do conselho de administração da companhia anunciou sua saída no último fim de semana. Ministros têm se reunido diariamente para debater como manter os preços baixos, à medida que os custos globais do petróleo explodem devido à guerra Rússia-Ucrânia e às sanções ocidentais ao petróleo russo em resposta ao conflito.

No entanto, as ações da Petrobras listadas no Brasil caíram apenas 1% esta semana e ganharam 18% no acumulado do ano. Os ADRs da empresa listados em Nova York subiram 27%.

Os investidores da Petrobras que insistiram em suas credenciais foram parcialmente justificados na quinta-feira, quando a empresa anunciou seu primeiro aumento no preço do combustível em mais de 50 dias. No entanto, a empresa indicou que ainda está oferecendo aos consumidores um desconto nos preços globais.

Mesmo antes do aumento de preços, os investidores afirmavam que tinham muitas razões para não abandonar o barco. Algumas eram simples: com o Brent acima de 110 dólares por barril e grande parte de sua produção exportada, a Petrobras pode apoiar os brasileiros na bomba enquanto ainda arrecada dinheiro.

A empresa vendeu muitos de seus ativos de distribuição e reforçou seus negócios de exploração e produção de margens mais altas nos últimos anos.

“Apesar de termos um presidente populista no Brasil em relação à Petrobras, o mercado está superando isso porque temos uma divisão de upstream que virou caixa eletrônico”, disse James Gulbrandsen, diretor de investimentos para América Latina da NCH Capital, no Rio de Janeiro.

A empresa se expandiu com fervor especial nos últimos anos no pré-sal, descrevendo suas operações como economicamente eficientes.

Além disso, os riscos políticos podem ser amplamente precificados após três anos da Presidência de Bolsonaro, disse André Vidal, analista-chefe de petróleo e gás da corretora de São Paulo XP Investimentos.

Antes do impasse de preços de combustível de fevereiro de 2021, a relação EV/Ebitda da Petrobras, uma medida comum de avaliação de empresas, estava em linha ou acima de seus pares.

Mas desde então tem divergido dramaticamente, caindo abaixo de 3x para a Petrobras, permanecendo acima de 4x para a maioria das grandes petrolíferas ocidentais, de acordo com um relatório de analistas liderados por Vidal enviado a clientes esta semana.

Mais importante, talvez, analistas e investidores dizem que a dinâmica do mercado doméstico de combustíveis do Brasil mudou recentemente, à medida que as reformas abriram espaço para mais concorrência.

A Petrobras vendeu uma grande refinaria no ano passado, quebrando seu monopólio efetivo naquele mercado. As empresas privadas também importam muito mais combustível agora.

Juntos, os fornecedores do setor privado provocariam um déficit dramático se saíssem do mercado devido aos descontos extremos da Petrobras, criando um sério revés para Brasília.

“Se saírem (importadores e refinadores privados), isso vai criar uma situação muito complexa e difícil de resolver no curto prazo”, disse Edmar Almeida, professor especializado em energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Seria muito traumático.”

(Reportagem adicional de Carolina Pulice em São Paulo)

tagreuters.com2022binary_LYNXNPEI2A0PC-BASEIMAGE