Segundo secretário-geral, número de militares em alta prontidão da aliança passará de cerca de 40 mil para 300 mil. Líderes de países-membros da Otan vão se reunir nesta semana na Espanha para discutir nova estratégia.A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) deverá aumentar de 40 mil para mais de 300 mil o número de soldados em nível de alta prontidão, afirmou nesta segunda-feira (27/06) o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg. O anúncio foi feito um dia antes do início da cúpula da aliança, marcada para ocorrer entre terça e quinta-feira desta semana, em Madri, Espanha.

A cúpula é classificada por Stoltenberg como “transformadora” e “um ponto de virada”, com várias decisões importantes a serem tomadas, uma vez que, além do provável anúncio do aumento de tropas em prontidão, os países-membros discutirão questões estratégicas de segurança em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Atualmente, a aliança tem em torno de 40 mil militares de prontidão. Os 260 mil soldados extras formariam uma reserva que a Otan poderia utilizar em caso de emergência. Além disso, mais armamentos pesados, incluindo sistemas de defesa aérea, seriam deslocados como instrumentos de defesa na extremidade oriental da aliança.

“Vamos melhorar nossos grupos de batalha na parte oriental da aliança para níveis de brigada. Transformaremos a força de resposta da Otan e aumentaremos o número de nossas forças de alta prontidão para mais de 300 mil [militares]”, disse Stoltenberg, sem dar detalhes sobre as tropas e de que forma elas poderiam ser deslocadas e atuar pela aliança.

O secretário-geral também afirmou que o destacamento de novas tropas de prontidão constitui a maior revisão de defesa coletiva da entidade desde a Guerra Fria (1949-1991).

“Acredito que os aliados deixarão claro em Madri que a Rússia é a maior e mais direta ameaça à nossa segurança”, reforçou Stoltenberg.

No Leste Europeu, a Otan já criou oito grupamentos táticos desde a invasão da Crimeia pela Rússia, em 2014, nos seguintes países: Eslováquia, Bulgária, Hungria, Romênia, Lituânia, Estônia, Letônia e Polônia. Unidades “pré-designadas” devem reforçar esses grupos principalmente em países que já contam com armamentos pesados.

As novas tropas, segundo indicou Stoltenberg, poderão treinar ao lado das forças de defesa dos países que têm presença da Otan e, assim, irão se familiarizar com o terreno local, a fim de que “possam responder sem problemas e com rapidez a qualquer emergência”.

O secretário-geral também afirmou que os líderes dos países-membros devem concordar em dar mais suporte à Ucrânia – o presidente Volodimir Zelenski deve participar do encontro por meio de uma chamada de vídeo.

O pacote de ajuda à Ucrânia incluiria “entregas substanciais”, a exemplo de equipamentos de comunicação, sistemas antidrone e combustível, além de, a longo prazo, fazer com que o país possa utilizar armas mais avançadas, a exemplo das que são usadas por países da Otan.

Mudanças no planejamento estratégico

Os 30 países-membros da Otan já se comprometeram a dedicar pelo menos 2% do PIB com defesa até 2024. Até o momento, porém, apenas nove alcançaram a meta: Grécia, Estados Unidos, Polônia, Lituânia, Estônia, Reino Unido, Letônia, Croácia e Eslováquia.

A França tem gastado, em média, 1,90%, a Itália, 1,54%, e a Alemanha, 1,44%. A Espanha, país que vai sediar a cúpula nesta semana, gasta uma média de 1,01%, de acordo com dados divulgados pela própria Otan nesta segunda-feira.

O conceito estratégico da Otan, adotado na cúpula de Lisboa, em 2010, segue em vigor e descreve a Rússia como um “parceiro estratégico”. Nesse sentido, no entanto, são esperadas alterações.

Stoltenberg adiantou que a Rússia “se afastou do diálogo que tentamos ter durante muitos anos” e que os acordos assinados com Moscou não estão mais funcionando “simplesmente porque [a Rússia] escolheu o confronto em vez do diálogo”.

“Temos que responder a essa realidade. Por isso a mudança fundamental em nossa defesa”, disse Stoltenberg, que reconheceu que deve continuar a ser necessário manter “linhas de comunicação” com a Rússia, a fim de evitar incidentes.

Por outro lado, ele assegurou que o conceito estratégico a ser debatido em Madri “abordará pela primeira vez” a China e “os desafios que ela representa para nossa segurança, interesses e valores”, bem como a evolução de outras ameaças e problemas, incluindo terrorismo, ciberespaço e guerra híbrida.

gb (AFP, EFE)