Em seu amplo escritório na sede do Grupo Algar, em Uberlândia (MG), Luiz Alexandre Garcia, CEO da empresa, explora os recursos de seu iPad, recém-comprado nos Estados Unidos. Pelas enormes janelas do prédio, todo envidraçado, é possível avistar algumas vacas pastando em frente à casa de seu avô, Alexandrino Garcia, o fundador da companhia, e onde até hoje mora sua avó, Maria Silva Garcia. 

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“Somos uma empresa de nicho e vamos continuar assim” Luiz Alexandre Garcia
CEO do Grupo Algar, ao lado de seu pai, Luiz Alberto Garcia, presidente do conselho da empresa

 

A cena descreve um dia comum na vida do executivo e é uma boa representação da situação da Algar, empresa de R$ 3,2 bilhões que atua nos setores de telecomunicações, agronegócios, tecnologia, aviação e turismo. A convivência pacífica entre o passado e o futuro é condição para a existência e para o crescimento da companhia. 

 

Afinal, ela controla a CTBC, a mais antiga concessionária de telefonia do Brasil, com presença em Minas Gerais e em algumas cidades do interior de São Paulo. Ao mesmo tempo, é dona de uma moderna rede de fibras ópticas, que será decisiva no próximo passo da companhia. 

 

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A Algar Telecom, uma das empresas do grupo, da qual a CTBC faz parte, está começando sua expansão em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba. A ideia não é competir no varejo com os grandes grupos de telecomunicações. 

 

O objetivo é brigar para conquistar as médias e pequenas empresas desses grandes centros nacionais, com ofertas de banda larga e de telefonia pela internet (VoIP, da sigla em inglês). Essa estratégia será fundamental para garantir a meta traçada por Luiz Alexandre para os próximos cinco anos. “Quero dobrar o tamanho do grupo”, afirma o executivo. 

 

Criada na década de 1950, a CTBC foi a única empresa de telefonia a permanecer sob controle privado após a implantação da Telebrás, em 1972. Em 1998, passou pela privatização do sistema sem mudar de dono. Hoje, é a marca de varejo do grupo e faz parte da Algar Telecom, nova empresa criada para gerenciar os serviços de telecomunicações da família Garcia. 

 

 

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Divino Sebastião de Souza, da Algar Telecom: “O diferencial da Algar é que 
a empresa tem uma cara, diferente das grandes operadoras” 

 

No mercado brasileiro, ela é a quinta maior empresa em telefonia fixa, celular e banda larga, atrás apenas dos grandes grupos, como Telefônica e Vivo (que pertencem a espanhóis e portugueses), Embratel, Claro e NET (que têm como sócia a mexicana Telmex), da brasileira Oi (resultado da fusão Telemar e Brasil Telecom) e da GVT (comprada pela francesa Vivendi). Diante da consolidação do setor, restaram poucas alternativas para quem quer entrar no mercado brasileiro. 

 

E a CTBC, em razão disso, acabou se transformando no último dos moicanos, em uma referência ao grupo indígena americano que é considerado extinto, para as empresas que têm intenção de investir no Brasil. 

 

E o que a torna atrativa? Observe o balanço da Algar Telecom. Em 2009, ela faturou R$ 1,1 bilhão. O lucro líquido da divisão ficou em R$ 58 milhões. No primeiro trimestre deste ano, a receita líquida atingiu R$ 365 milhões, com crescimento de 11,5% em comparação ao mesmo período do ano passado. 

 

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O número de clientes chegou a 1,6 milhão, contra 1,5 milhão há um ano. Segundo relatório da agência de classificação de risco Standard & Poor’s, a Algar Telecom tem baixo nível de endividamento e geração de caixa suficiente para garantir a expansão. Até 2014, está previsto R$ 1,5 bilhão em investimentos nas diversas empresas do grupo. 

 

Por outro lado, ela enfrenta competição acirrada de grandes grupos de telecomunicações, com muito mais dinheiro e custo de operação menor em virtude da escala. Esse cenário, na visão da agência, torna a companhia vulnerável a mudanças de ambiente, como uma deterioração mais rápida dos serviços de voz. 

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A  entrada nos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Paraná demonstra que a companhia está se preparando para valorizar os ativos. É um sinal de que a empresa pode ser vendida? Luiz Alexandre Garcia diz que não pensa em vender a área de telecomunicações. Mas não vê problema caso a oferta seja interessante. 

 

“Nós já entramos e saímos de alguns mercados no passado”, afirma Garcia. O analista de telecomunicações da consultoria IT Data, Alvaro Leal, acredita que esta pode ser uma opção colocada sobre a mesa. 

 

“Não acharia estranho (a venda da empresa). Uma empresa estrangeira poderia se interessar”, diz.  Entre os ativos da companhia está uma rede de 11 mil quilômetros de fibra óptica.  A Telebrás, que está sendo ressuscitada, nasce com uma rede de 16 mil quilômetros. A previsão para este ano é que os investimentos na Algar Telecom ultrapassem R$ 200 milhões.

 

Com seu jeito mineiro, Luiz Alexandre Garcia explica que não quer concorrer com a Telefônica ou com a Oi. “Somos uma empresa de nicho e continuaremos assim”, afirma. A estratégia é buscar as médias e pequenas empresas, segmento que tem grande demanda por serviços de telecomunicações, mas acaba recebendo o mesmo tratamento de uma pessoa física por parte das grandes operadoras. 

 

“É um setor onde nossos concorrentes não estão”, afirma Divino Sebastião de Souza, diretor-presidente da Algar Telecom. “O diferencial da Algar é que a empresa tem uma cara, diferentemente das grandes operadoras, nas quais o cliente nunca sabe com quem está falando.”

 

 

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A receita é praticamente a mesma da GVT, operadora que começou como espelho da Brasil Telecom nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte do Brasil. Após ampliar a área de atuação buscando clientes de alto valor em São Paulo e em outros grandes mercados, ela foi comprada por R$ 7 bilhões pela francesa Vivendi no ano passado. 

 

Para o analista de telecomunicações da consultoria IDC, João Bruder, a estratégia faz sentido. “A estrutura menor da Algar permite um relacionamento melhor com os clientes”, diz.  E aí o passado mais uma vez influencia o futuro da companhia. 

 

Alexandrino Garcia, o fundador do grupo, chegou de Portugal em 1919. Trabalhou como servente de pedreiro, ferreiro e mecânico antes de fundar a Algar, grupo que atualmente tem mais de 17 mil funcionários espalhados pelo Brasil. 

 

A história de como ele começou o negócio, atendendo pessoalmente aos primeiros clientes da empresa está na ponta da língua de todos os executivos da companhia. O principal slogan da Algar, “gente atendendo gente”, também remete ao seu fundador, que sempre adotou o mote como filosofia empresarial. 

 

Foi com essa mentalidade que Luiz Alberto Garcia, pai de Luiz Alexandre e presidente do conselho de administração do grupo, começou a expandir os negócios da família na década de 1980. Ele profissionalizou a companhia e adotou conceitos de governança corporativa. Nos anos 1990, o empresário chegou a figurar na lista da revista Forbes dos homens mais ricos do mundo. 

 

Apesar do constante contato com o passado, Luiz Alexandre Garcia não faz o tipo emotivo, que comanda a empresa da família com o coração e faria de tudo para evitar que ela mudasse de mãos. Seu estilo é de alguém mais objetivo, que analisa todas as possibilidades antes de tomar uma decisão estratégica. 

 

Ele é o responsável por promover uma vez por ano o evento Algar 2100, que incentiva os executivos do grupo a pensar em como estará a empresa na virada do século. E como ele acha que estará a Algar daqui a 100 anos? “Não tenho ideia. Apenas sei que serão os nossos valores que nos levarão longe.”