A força do nome Trump sempre foi uma aliada na carreira empresarial de Donald Trump Junior, 32 anos. Filho do magnata americano do ramo imobiliário, cuja fortuna pessoal é estimada em US$ 3 bilhões, Don Jr., como é mais conhecido, vem se revelando o principal aprendiz do pai.

Uma de suas maiores tacadas no mundo dos negócios aconteceu em 2003, quando fechou a venda de um apartamento em Manhattan, Nova York, por US$ 25 milhões. O inusitado nessa história é que a transação foi sacramentada na véspera do Natal, época na qual a maior parte das pessoas está mais preocupada em festejar do que em fazer negócios.
 

110.jpg
De pai para filho: o primogênito Trump Jr., 32 anos, é considerado o
aprendiz número 1 do pai, dono de uma fortuna de US$ 3 bilhões

 

Segundo Don Jr., essa foi a transação mais cara do gênero no mercado imobiliário naquele ano. Esse faro comercial, herdado do patriarca, fez com que o primogênito ascendesse ao posto de vice-presidente- executivo de desenvolvimento e aquisições das Organizações Trump.

Função que lhe garante autonomia para falar em nome do pai com banqueiros, chefes-de-Estado e membros da realeza. Na terça-feira 6, Don Jr. desembarcou em São Paulo com a missão de prospectar negócios. “O Brasil possui uma economia dinâmica, especialmente no setor imobiliário”, disse à DINHEIRO no intervalo de uma das diversas reuniões que manteve com empresários.

“E nós queremos participar desse bom momento”, completou. Durante três dias, Don Jr., que não tem o mesmo topete e evita comparações com o pai, se encontrou com banqueiros, donos de hotéis e proprietários de terrenos em pontos nobres do litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo.

O objetivo? Definir os projetos nos quais será estampada a marca Trump. “O mercado brasileiro hoje está maduro para reconhecer e valorizar os projetos de altíssimo luxo”, diz Donald Trump, o pai, à DINHEIRO.
 

112.jpg

114.jpg

Os sócios locais, que controlam a Trump Realty Brasil (TRB), não economizam em matéria de otimismo. “Nossa expectativa é desenvolver negócios com potencial de vendas no valor de US$ 1 bilhão no primeiro ano, podendo atingir US$ 5 bilhões até 2016”, conta Ricardo Bellino, acionista da TRB.

 

A ideia é se aliar a empreendimentos existentes e que, por motivos como disputa entre sócios ou defeitos na concepção do projeto, não vingaram. A lista inclui o Hotel Palácio Tangará, ao lado do parque Burle Marx, no Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo, há oito anos abandonado devido a uma disputa societária.

Bellino não confirma, mas outro que estaria na mira é o Hotel Nacional, do Rio de Janeiro, fechado há 15 anos. Entre os possíveis parceiros consta o empresário Klaus Peters, integrante do clã que desenvolveu o resort de Praia do Forte, no litoral norte da Bahia. 

113.jpg

115.jpg

Peters, conhecido como Cacau, possui uma ampla carteira de terrenos espalhados pelo litoral norte de São Paulo. “Faltam empreendimentos como os que o Trump pretende implantar aqui no Sudeste”, avalia Cacau. Outro que também conversou com Don Jr. foi Eduardo Modiano, cuja família é dona do hotel Marina Porto Búzios e de um aeroporto privado na cidade do litoral fluminense. “Temos interesse em estampar a marca Trump em nosso projeto”, confirma Arthur Parkinson, da Parkinson Desenvolvimento Imobiliário (PDI), e parceiro de Modiano.

Como em quase todos os negócios nos quais Trump se envolve, ele não quer pôr a mão no bolso, apenas licenciar a marca para explorar a área hoteleira. No caso do Tangará, a ideia é buscar um parceiro para finalizar o hotel e adicionar um prédio de escritórios ou um edifício residencial de alto padrão.

O negócio poderá ser tocado por meio de licença concedida pelos atuais donos, o fundo de pensão Previ e a construtora Birman, ou diretamente pela TRB. “Nós e a construtora espanhola OHL temos a opção de compra do hotel”, explica Bellino. Mas, será que existe capital disponível para bancar construções dessa magnitude? Oscar Segall, sócio-diretor do Banco BTG Pactual, diz que sim. “O mercado de construção está aquecido”, destaca. Na avaliação do

banqueiro, que foi um dos fundadores da construtora Klabin Segall, isso vale também para os imóveis de altíssimo padrão. Para ele, a adoção do novo marco legal no setor abriu as portas para o capital estrangeiro. Segall diz que sua empresa não foi convidada formalmente. Contudo, teria interesse em estruturar projetos de captação de recursos para a TRB.

Isso, no entanto, não garante o sucesso da empreitada. É que no início da década, Trump e Bellino anunciaram com estardalhaço o lançamento de um megacondomínio residencial e de lazer em Itatiba (SP). O negócio, entretanto, não saiu do papel.

O Villa Trump Golf & Resort seria composto de mansões, hotel cinco-estrelas e um campo de golfe projetado pelo lendário Jack Nicklaus. “O projeto teve de sofrer tantas alterações para ser viabilizado que perdeu o espírito Trump.

Aí resolvemos sair da sociedade”, justifica Bellino. Mais que um desafio, Bellino tem pela frente a missão de provar que agora é capaz de transformar projetos em negócios concretos. Além da Villa Trump, outras tacadas capitaneadas por ele não se tornaram realidade.

Entre elas está o lançamento no Brasil do carro movido a ar: o MDI, idealizado pelo francês Guy Nègre. A maré econômica favorável pode ajudar a mudar esse retrospecto. Donald Trump também recusa a palavra fracasso. Prefere dizer que pagou o preço do pioneirismo, ao investir no produto certo na hora errada. “O mercado brasileiro ainda não estava preparado para um projeto da magnitude dos nossos”, diz Trump.


Entrevista

Donald Trump falou à DINHEIRO sobre seus planos para o País. A seguir, os principais pontos da entrevista:

Em 2003, o sr. tentou trazer a marca Trump para o Brasil. O que deu errado?
Donald Trump – O Brasil é um mercado fantástico e eu fiquei muito empolgado em operar aí. Contudo, do ponto de vista exclusivamente pragmático, acho que foi bom ter esperado para voltar ao jogo agora.

Nesse tempo, competidores globais como Sam Zell e Enrique Bañuelos entraram no Brasil. Por que  o sr. demorou tanto?
TRUMP – Nossos projetos são baseados no segmento de altíssimo luxo e por isso necessitam de um mercado maduro, que entenda a diferença entre produtos realmente com esse perfil daqueles que apenas se vendem como tal. Creio que, agora, o consumidor brasileiro já conhece bem os dois conceitos. 

Quais suas apostas para os próximos anos?
TRUMP – O País poderia ocupar um lugar de destaque em nosso portfólio. Foi por isso que enviei meu filho Don Jr. para prospectar oportunidades junto com nosso parceiro Ricardo Bellino.