Não há dúvida de que a tecnologia causa um impacto positivo na economia. Segundo estimativas da McKinsey&Company, o advento da máquina a vapor aumentou a taxa de produtividade em 0,3% entre 1850 e 1910. Os primeiros robôs, de 1993 a 2007, ajudaram em 0,4% o avanço econômico. Os sistemas de tecnologia da informação, por sua vez, contribuíram com 0,6% de 1995 a 2005. Mas nada se compara com a estimativa que a consultoria americana está fazendo em relação às novas ferramentas de inteligência artificial. De 2015 a 2065, a taxa de produtividade pode crescer anualmente entre 0,8% e 1,4%. É um número extraordinário, sob qualquer ângulo que se analise.

Mas essa boa notícia, infelizmente, esconde uma informação ruim. A mesma pesquisa, divulgada no começo deste ano, indica que quase metade das ocupações atuais pode ser automatizada até 2055. Em números, cerca de US$ 15 trilhões em salários podem ser economizados pela substituição de humanos por “robôs”. A novidade, neste caso, é que atividades cognitivas, antes pouco abaladas pelo trabalho mecânico das máquinas, podem também ser dizimadas pela automação.

Não se trata de uma previsão de ficção científica. Já está acontecendo. Aqui e agora. Os exemplos são cada vez mais fartos. São robôs que fazem o trabalho de advogados numa fração do tempo. Jornalistas que são substituídos por softwares que escrevem relatórios financeiros quase que simultaneamente ao momento que os dados são divulgados. Os chamados chatbots já montam, inclusive, sua carteira de ações. Até roteiristas já foram substituídos por essas máquinas cada vez mais inteligentes e que não param de aprender. Todos os titãs do Vale do Silício, como Apple, Microsoft, Amazon, Google e Facebook, estão apostando os seus bilhões de dólares em pesquisas nessa nova fronteira da tecnologia.

Os impactos da robótica e da inteligência artificial atingirão diversas áreas da economia, como os setores de agricultura, da indústria, de veículos, de entretenimento, saúde e financeiro. Os carros autônomos, como o do Google, Tesla ou Uber, por exemplo, devem se tornar um mercado de US$ 87 bilhões em 2030. Mas nada será tão afetado quanto o setor de call center. A empresa de pesquisa americana Gartner estima que até 85% dos centros de atendimento ao cliente irão ser virtuais em 2020.

O que, então, fazer? Lutar contra eles como fizeram os luditas, um movimento que ia contra a mecanização do trabalho durante o auge da Revolução Industrial, na Inglaterra? Não se trata, em minha opinião, da melhor estratégia. Não há como brigar contra o avanço inexorável da tecnologia. Não seria, inclusive, inteligente. Mas se não nos prepararmos para o advento de uma sociedade comandada por robôs, vamos criar um contingente gigantesco de pessoas sem emprego. É um problema real que precisa ser atacado a partir de agora.

O cofundador da gigante de tecnologia Microsoft, Bill Gates, já chegou a defender um imposto para os robôs. A ideia do criador do popular sistema operacional Windows é cobrar das empresas que os usam para substituir trabalhadores. Essa tributação seria temporária para, ao menos, reduzir a automação ou para financiar outros tipos de empregos. Mas, como empresários têm urticárias quando ouvem a palavra tributos, seria urgente estabelecer políticas educacionais para treinar os trabalhadores, preparando-os para os empregos do futuro.