O número de bancos em atividade no mercado brasileiro diminuirá na virada do ano. A ameaça que vai podar uma parcela das instituições pequenas e médias do mercado é a chegada do novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), remarcada pelo Banco Central para o início de 2002. Quando janeiro chegar, bancos que não conseguiram arcar com o custo de adaptação ao novo sistema e instituições que admitiram não ser capazes de controlar o caixa a cada instante do dia simplesmente dirão adeus ao mercado. O desafio pode ser grande demais para quem é muito pequeno e não é intensivo em tecnologia ? seja de sistemas ou de gestão dos próprios recursos. Para que investir R$ 400 mil em um sofisticado sistema de compensação on-line de documentos se tudo o que se faz é processar 30 cheques e DOCs por dia? O custo pode ser reduzido com o uso de sistemas compartilhados por até oito bancos, mas os riscos que a exigência do BC acarreta, de que as instituições não tenham o caixa no vermelho nem por um segundo ao longo do dia, são impossíveis de se tirar do caminho.

Mas não há o que lamentar. A maior parte dos que vão sumir já mal podem ser chamados de bancos, a não ser pela razão social que ostentam. São instituições que servem apenas para executar um serviço financeiro para o grupo ou a família que as controlam, e que por isso não investem o que se espera na formação de um verdadeiro banco ? com as estruturas de controle, gestão de risco, capitalização e tecnologia que se espera. Há mais bancos pequenos nessa situação, mas há também de médio porte. Eles vão ter de decidir se levam a sério o negócio bancário ou se procuram um veículo mais específico para fazer a operação que desejam. ?Quem vai ter que se mexer são os bancos que já não fazem muita coisa, que já estão meio dormindo. Esses vão ter de sair da inércia e ver se o negócio deles é viável ou não?, prevê o diretor de política monetária do BC, Luiz Fernando Figueiredo. Alguns vão acabar fazendo os investimentos necessários, mas uma parcela tende a fundir, vender ou até fechar seus bancos. ?É um efeito colateral bem-vindo?, avalia.

Muitos deverão preferir trocar o status de banco por outro mais simples, de financeira, corretora, gestora de fundos ou até empresa de factoring, que lhes permita continuar atuando no nicho que exploram hoje por meio do banco. O tempo está correndo e pressiona por uma decisão rápida. Os testes obrigatórios de adaptação ao SPB começam em junho e a compensação de documentos acima de R$ 5 mil já passa por ele em novembro. Mas apenas 40 dos 172 bancos brasileiros já anunciaram que pretendem adaptar seus sistemas. A entrada em vigor definitiva do novo SPB é em janeiro e, a partir desse momento, instituição alguma poderá ficar com sua conta de reservas bancárias negativa, por um minuto que seja. Hoje, a conta pode ficar furada ao longo do dia, desde que seja zerada no fechamento. A conseqüência é óbvia: bancos que não contam com o fluxo farto de depósitos dos grandes do mercado vão precisar se alavancar menos, para não correr o risco de quebrar ao sofrer um saque maior de um cliente.

Desenvolver por conta própria as soluções que o SPB exige está fora de cogitação para quem não é grande. Máquinas e programas custariam pelo menos R$ 400 mil, segundo a associação que reúne os bancos de pequeno porte, a ABBC. E o custo total nos primeiros meses pode subir a R$ 1 milhão se forem levados em conta custos de treinamento e manutenção. Para os 70 menores do mercado, com patrimônio médio de R$ 25 milhões, o investimento inicial é muito grande. ?Fica proporcionalmente caro. Até porque o uso que esses bancos podem fazer do sistema é pequeno?, explica Paulo Cândido de Oliveira, diretor-executivo da ABBC. A exigência tecnológica também é pesada: uma instituição não poderá ficar mais que três horas fora do ar em um ano, segundo as regras do BC. As soluções compartilhadas, por isso, ganharam força. O custo cai a algo como R$ 100 mil por ano e a conexão fica nas mãos de empresas especializadas. Mas o apego dos banqueiros a seu patrimônio ainda não deixou que nenhum acordo de compartilhamento fosse anunciado. ?Os bancos sempre tiveram tudo dentro de casa e estão desconfiados de ter que usar um data center. Os acertos vão ficar para cima da hora?, revela Josino Garcia, da T4B, de olho justamente nessa fatia do mercado.