Maior nome da indústria calçadista no País, o empresário Alexandre Birman, CEO da holding Arezzo&Co., tinha a ambição de transformar a Schutz em uma marca de lifestyle desde que a fundou, há 26 anos. Esse desejo se consolidará em março do ano que vem, com o lançamento da primeira coleção de vestuário. O que a diferencia de outras do mesmo grupo, como a própria Arezzo, e que permitiu esse movimento, é a forte aderência dos clientes da marca à proposta. Da base ativa de 500 mil consumidores, 10% fazem parte de uma comunidade fiel à Schutz, pessoas de classe alta que gastam 2,5 vezes mais do que a média. “Não precisamos atrair novos clientes para crescer porque temos uma demanda inexplorada dentro da nossa própria base”, afirmou Milena Penteado, diretora da operação. A executiva conta que, com o sucesso da colaboração com a Ginger, marca de moda da atriz Marina Ruy Barbosa, no fim do ano passado, a companhia confirmou o potencial para a venda de roupas nas lojas e no e-commerce. Foi o suficiente para tirar do papel os planos de ampliar o universo Schutz, que hoje quer ganhar, além dos pés, o coração e a cabeça dos consumidores.

Sem deixar de fora o bolso, claro. Os R$ 15 bilhões que as classes A e B movimentam anualmente no setor feminino de vestuário no Brasil, segundo o IBGE, ajudaram a nutrir esses planos. A empresa contratou 25 especialistas que seguirão sob a batuta da estilista Cacá Garcia. O time desenvolveu 300 modelos de referência, com preço médio de R$ 590, que foram divididos em lançamentos mensais. Há opções nas quatro linhas principais: jeans, camisaria, algodão e alfaiataria, que diferem do visual mais arrojado pelo qual a marca é conhecida. “Estamos trazendo uma moda urbana e mais versátil, trabalhando inicialmente com quatro estampas”, disse Milena. A aposta num formato mais seguro vem das percepções colhidas na base de clientes e da complexidade da indústria, distante do familiar segmento de bolsas e calçados. Neste caso, a Schutz tem a seu favor o ecossistema da Reserva, que pertence ao mesmo grupo e com quem dividirá um centro de distribuição no Rio de Janeiro e a rede de fornecedores.

Apesar de levar a coleção de roupas para as lojas próprias, eles focarão nas plataformas digitais, em especial o e-commerce, que representou 30% dos mais de R$ 700 milhões de receita no País em 2021, e na prateleira infinita (quando não há necessidade de a venda estar vinculada a ter o item em estoque) para os franqueados. “Inicialmente, o vestuário será um upside das vendas”, afirmou Milena. “Nos próximos dois anos, deve representar 25% do faturamento.” A executiva projeta que a categoria se consolide com 50% das vendas.

EXPANSÃO Pela resiliência do consumo entre os grupos mais ricos, a Schutz consegue projetar crescimento mesmo diante da crise. Para 2022, a perspectiva é de que a receita global ultrapasse R$ 1 bilhão. O impulso vem da retomada em categorias como o salto alto, que cresceu 146% no terceiro trimestre ante o mesmo período do ano passado, recuperando o protagonismo que havia perdido para os sneakers – 35% das vendas em 2020. Já as bolsas, com a venda cruzada, são responsáveis por 36% do faturamento. Pelo preço médio de R$ 700, as mais de 400 mil bolsas vendidas no País no acumulado do ano até outubro ajudaram a puxar o crescimento de 47% na receita bruta, em relação a 2019.

Fora do Brasil, a estratégia da Schutz foi readequar o e-commerce, responsável pelo crescimento de 100% da operação em relação a 2019. “Reduzimos a faixa de preço para ficar abaixo dos US$ 200”, afirmou a executiva. O foco para o próximo ano será avançar no País com uma estratégia omnicanal apoiada pelos revendedores. Assim, a Schutz caminha a passos largos como uma das marcas mais valiosas no varejo de moda brasileiro.