Enfrentar uma crise de déficit hídrico, ainda mais com a gravidade que se vê em 2021, exige questionar o uso da água pelas cadeias produtivas do agronegócio. Este ano, o cenário de seca intensa trouxe também uma nova iniciativa para estimular a produção irrigada: agora no início de dezembro foi lançada a Rede Nacional de Irrigantes (RNAI), uma entidade cujo objetivo é incentivar o desenvolvimento sustentável da agricultura com irrigação no Brasil.

O País tem um grande potencial para a expansão dessa tecnologia. Apenas 3% da produção agrícola nacional é irrigada, segundo o Ministério da Agricultura. Dados do Atlas de Irrigação 2021, elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), mostram que são mais de 8,2 milhões de hectares irrigados com a possibilidade de avançar para mais 4,7 milhões de hectares até 2040. Mas o próprio fundador e coordenador da RNAI, Lineu Neiva Rodrigues, também pesquisador de Embrapa, entende tratar-se de um grande desafio. Como ele afirmou, é preciso “alto nível de planejamento e articulação entre diversos setores da economia e dos governos estaduais e federais”.

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Em relação ao planejamento de alto nível, o Brasil tem a vantagem de contar com grandes especialistas no assunto, como é o caso do Lineu Rodrigues. A parte da articulação dos diversos setores da economia pode ser resolvida com certa agilidade, se o que é prioritário prevalecer como o objetivo comum. No entanto, questões primordiais para o crescimento da agricultura irrigada, como mecanismos de outorga do uso da água, licenciamento ambiental e desenvolvimento de infraestrutura básica – fornecimento de energia, por exemplo –, estão diretamente ligados à relação entre governos estaduais e federal. E aí a compreensão de um objetivo comum, e que esteja alinhado com o que realmente importa, torna-se um desafio à parte.

O que é prioridade para o agronegócio, setor que responde por mais de 26% do PIB nacional, e para a sociedade como um todo, corre grande risco de ficar travado em meio a disputas de interesses eleitoreiros. Não por acaso, uma das sugestões de ações prática da RNAI é a implantação de um Conselho Nacional de Irrigação, para acelerar e dar mais assertividade a esses debates. O momento é até bastante oportuno para promover essa evolução da agricultora e da pecuária irrigada, pela urgência de tornar essas atividades cada vez mais sustentáveis, e não faltam exemplos no Brasil de como essa técnica pode contribuir com o desenvolvimento do agro, e de diversas maneiras. Mas vale a ressalva de que a oportunidade e a necessidade para se tratar desse assunto são permanentes.