Nunca houve um período como o primeiro semestre de 2010 no campo das fusões e aquisições. Entre janeiro e junho, 59 operações anunciadas atingiram R$ 84,8 bilhões, um recorde absoluto na história para um primeiro semestre. 

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André Esteves: sócio do BGT Pactual. O banco foi responsável por operações

gigantescas, como a associação entre a TAM e a LanChile

 

As operações efetivamente fechadas chegaram a R$ 37,2 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na estimativa mais conservadora, 2% do total das operações fechadas – algo como R$ 744 milhões – ficou nas mãos dos profissionais encarregados de costurar esses meganegócios. 

 

São banqueiros, consultores e advogados especializados em fechar essas megaoperações. E eles ainda vão ganhar mais dinheiro este ano. Bruno Amaral, executivo do banco BTG Pactual e coordenador do subcomitê de Fusões e Aquisições da Anbima, avalia que os números do ano todo serão ainda maiores. 

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Francisco Mussnich: O escritório de advocacia carioca Barbosa, Mussnich

e Aragão intermediou a associação entre a OdontoPrev e a Bradesco Dental

 

“O mercado está muito aquecido, há várias transações em andamento e 2010 deve registrar um recorde nessas operações.” Boa notícia para bancos como o próprio BTG Pactual, escritórios de advocacia como o carioca Barbosa, Mussnich e Aragão e consultorias como a Estáter. Por trás desses nomes, conhecidos ou nem tanto, estão os profissionais encarregados dos meganegócios que alteraram o panorama corporativo brasileiro e devem produzir muitas notícias nos próximos meses.

 

Um bom exemplo é o do consultor Pércio de Souza, sócio-fundador da consultoria Estáter. Na Grécia antiga, o estáter era uma moeda de ouro que valia quatro dracmas. No Brasil de hoje, a Estáter e o próprio Souza valem bem mais. 

 

Ele foi o encarregado de negócios vultosos, como a operação que uniu o Pão de Açúcar de Abilio Diniz à Casas Bahia de Samuel Klein e, em 2009, fez o parto da Fíbria, resultado da incorporação da Aracruz pela Votorantim Celulose e Papel (VCP). 

 

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Pércio de Souza: Sua consultoria, a Estáter, ficou em segundo lugar

entre os escritórios de fusões e aquisições no primeiro semestre de 2010

 

Pelos números da Anbima, divulgados na quarta-feira 18, a Estáter ficou em segundo lugar entre os fechadores de negócios, tendo concluído negociações de R$ 7,4 bilhões (leia os quadros na página 102). Os especialistas do mercado de fusões e aquisições avaliam que negócios como esses podem render comissões de até R$ 74 milhões. Segundo Luís Motta, sócio da consultoria KPMG, a consultoria para negócios bilionários chega a custar 1% do total fechado. 

 

“Os percentuais são maiores para negócios de menor porte”, diz ele, ressalvando que não está comentando a situação específica da Estáter. Procurados, os executivos das empresas não estavam disponíveis para comentar os resultados.

É um bom dinheiro, mas é suado para ganhar. 

 

“O fechamento de um negócio leva de seis a oito meses. Isso se todas as partes concordarem que querem o negócio”, diz Motta. Enquanto os papéis não forem assinados e as garrafas de champanhe permanecerem fechadas, o consultor ganha, quando muito, uma remuneração simbólica – o pagamento só ocorre se a transação sair. 

 

Por isso, a rotina de um profissional de fusões e aquisições não raro inclui noites em claro, viagens de última hora e longos períodos de concentração na leitura de contratos de centenas de páginas, além de uma agenda totalmente imprevisível. 

 

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“Há alguns anos eu fui para a Argentina com previsão de fechar um negócio em dois dias e tive de ficar por duas semanas”, diz Andréa Pinheiro, sócia da empresa BR Partners. “Levei dois ternos e duas blusas, que eu tinha de mandar lavar todas as noites.” Souza e sua reduzida equipe chegaram a dormir várias noites no escritório  enquanto duravam  as tratativas entre seus clientes. 

 

Competência técnica e resistência ao stress não são as únicas exigências para um profissional dessa área. Também é preciso lidar com clientes ricos, poderosos e que, frequentemente, têm um apego emocional muito forte às empresas que estão sendo negociadas. 

 

“Você tem de atuar como psicólogo, como padre e ser um excelente ouvinte”, diz um executivo do Itaú BBA, líder no setor no primeiro semestre, segundo a Anbima. “É preciso ter paciência e a capacidade de rir várias vezes da mesma piada.” 

 

Também é preciso sair do figurino clássico de mercado financeiro. É o caso de Francisco Mussnich, sócio do escritório Barbosa, Mussnich e Aragão. Ele costurou transações como a venda do banco Pactual para o UBS, em 2006, a fusão dos sites Americanas.com e Submarino, em 2007, e a incorporação da Bradesco Dental pela OdontoPrev em 2009. 

 

Seu perfil é o do carioca exemplar: torcedor e conselheiro do Botafogo, indefectível nas areias do Leblon, e exímio esgrimista da cultivada informalidade da zona sul. O escritório de Mussnich perdeu algumas posições em 2010 – ficou em oitavo lugar, segundo a ThomsonReuters – mas cravou um honroso segundo lugar entre os escritórios de advocacia em 2009.

 

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O BTG Pactual, do banqueiro André Esteves,  só não ficou na liderança por causa do calendário. Seu maior negócio até agora, o acordo entre a TAM e a LanChile que criou a Latam, foi anunciado na sexta-feira 13. 

 

A transação envolverá uma troca de ações e costurou duas empresas que, juntas, estão cotadas em US$ 12 bilhões. Além disso, o banco trabalhou na aquisição da SP Vias pela CCR, por R$ 947 milhões, e na compra de 22% da Oi pela Portugal Telecom, no início do mês. 

 

A contabilização desses negócios deverá catapultar o banco acima da quarta posição registrada no primeiro semestre. “O BTG é um banco muito agressivo na hora de fechar negócios e ganhar mandatos”, diz um concorrente. “Os sócios podem se reunir e tomar decisões rapidamente, ao passo que o processo decisório nos bancos internacionais é mais emperrado.”