Ao ganhar sinais práticos através de inúmeros manifestos lançados nos últimos dias, a contrariedade do PIB para com o governo Bolsonaro subiu de patamar. Produtores rurais, por exemplo, habitualmente simpáticos e apoiadores da gestão federal, deram o tom mais duro e incisivo em sinal de descontentamento pelos prejuízos notórios causados em suas exportações e negócios em geral, devido às ameaças antidemocráticas. Ao menos sete entidades da agroindústria assinaram a lista de adesões ao alerta que defendia instituições, os poderes constituídos, como essenciais para o desenvolvimento de um mercado ativo e estável. Reclamaram das afrontas ao liberalismo econômico, à ordem e aos direitos individuais do País. No mesmo tom foram os comunicados de alerta de organizações que representam o sistema financeiro e empresarial, como a Febraban e a Fiesp. A onda de resistência, montada tal qual um cordão de isolamento da sociedade civil organizada contra aventuras desestabilizadoras, representou um tsunami de água fria na fervura gerada em Brasília. O governo tomou um susto e respondeu com ações fora da legalidade. Usou bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, para retaliar. O presidente Jair Bolsonaro, endossado pelo ministro Paulo Guedes, determinou a retirada das duas organizações do guarda-chuva da Federação dos Bancos. Jamais algo parecido havia ocorrido. A simbologia do ato, engendrado dentro do Palácio do Planalto, é grave por representar a politização clara de máquinas financeiras que são de propriedade pública. Interlocutores do mandatário informam que ele não vai parar por aí. Está absolutamente tomado pela ideia de que pode tudo impunemente, usando e abusando de ferramentas do Estado em proveito de objetivos pessoais. A reação especialmente da Caixa Econômica, através de seu presidente, Pedro Guimarães, carrega, segundo um dos próximos assessores de Bolsonaro, a intenção desse executivo de mostrar fidelidade ao chefe e assim credenciar o seu nome a uma possível candidatura de vice na chapa do capitão. Seria, por assim dizer, uma captura política de bancos públicos. Já o documento da Fiesp, que reforçava a articulação da Febraban, chegou a colher cerca de 200 assinaturas e estava prestes a ser divulgado, quando o deputado Arthur Lira, da presidência da Câmara, resolveu intervir e negociou com Paulo Skaf um adiamento. Não pegou bem. Na Federação das Indústrias, o movimento do atual comandante e eterno candidato a postos públicos, Paulo Skaf, foi classificado como traição. Intramuros da Federação muitos reclamaram e um dos diretores chegou a reagir reclamando: “De que lado ele está?”. Skaf acalenta sonhos eleitorais em São Paulo e talvez essa ambição tenha contribuído no recuo. De toda maneira, ele acabou por expor parte do empresariado ao ridículo com a atitude tomada. De uma forma geral, todas as ações representaram um ponto de inflexão importante. O capital, tradicionalmente avesso a ruídos e posicionamentos eloquentes, sentiu a necessidade de expor o incômodo com a escalada de atos não republicanos e abandonou a habitual discrição. O ministro Paulo Guedes resolveu criar a própria versão para o avanço em bloco do PIB contra o governo. Para ele é tudo fruto da insatisfação com os rumos da Reforma Tributária, principalmente. Os manifestos, entende, estariam no bojo de uma pressão classista para o atendimento a demandas históricas da produção que vêm sendo contrariadas. Guedes também atribui tamanha confusão à má vontade e às propostas em discussão que redundariam no calote dos precatórios. Acredita o ministro que muitos interesses vêm sendo contrariados e a resposta na intensidade com que aconteceu sempre é vista em situações como essa. Não deixa de ser uma leitura muito específica, talvez míope demais, dos acontecimentos.

Carlos José Marques, diretor editorial