O Brasil e o mundo assistiram, atônitos, ao discurso do presidente Jair Bolsonaro, na noite da terça-feira 24. Por parte de especialistas em saúde pública, políticos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e da imprensa internacional, os adjetivos atribuídos ao mandatário da nação foram de “insensato” e “irresponsável” a “imbecil” e “perigoso”. Não foi para menos. Diante da maior crise da economia e da saúde pública mundiais das últimas décadas, o Brasil precisa conviver com os males causados por dois vírus: o coronavírus e o Bolsonavírus. O primeiro já contaminou cerca de 400 mil pessoas em mais de 170 países, matando 20 mil indivíduos e colocando nações inteiras num regime de quarentena global jamais visto na História da Humanidade. O segundo, com sua inépcia e arrogância, parece trabalhar a favor do problema, com declarações e atitudes atabalhoadas.

Em seu mais recente e desastroso pronunciamento, o Bolsonavírus voltou a se referir à Covid-19 como uma “gripezinha”, atacou governadores – num momento em que é fundamental trabalhar em conjunto – e defendeu que os brasileiros “voltem à normalidade”. Claramente, o chefe do País disse, de novo, que a quarentena é desnecessária, quando todos os especialistas do planeta – inclusive a Organização Mundial da Saúde (OMS) – recomendam exatamente o oposto. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, foi um dos críticos ao discurso constrangedor de Bolsonaro. “O Brasil precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida da população”, disse o senador. A imprensa internacional foi bem mais dura com o presidente brasileiro. O jornal britânico The Guardian, um dos mais respeitados do mundo, chamou as declarações de Bolsonaro de “incendiárias”. Para o espanhol El País, o nosso presidente “é o pior caso” entre todos os líderes da América Latina, no que diz respeito à postura diante da atual crise. Ao povo brasileiro não resta outra alternativa, a não ser seguir na quarentena, à espera que os dois vírus sejam controlados.

FRASES

O que eles falaram sobre o pronunciamento de Jair Bolsonaro

Jardiel Carvalho

“O presidente repetiu opiniões desastradas sobre a pandemia. Opor-se aos infectologistas passa dos limites. Se ele não se calar, estará preparando o fim. E é melhor o dele do que o de todo o povo” Fernando
Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil.

Wenderson Araujo

“As orientações da OMS na luta contra o vírus devem ser rigorosamente seguidas por nós. As agruras da crise, por mais árduas que sejam, não sustentam o luxo da insensatez” Gilmar Menes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Pedro Ladeira

“Desde o início desta crise, venho pedindo sensatez e união. O pronunciamento do presidente foi equivocado, ao atacar a imprensa, os governadores e especialistas em saúde pública” Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados.

O pacotaço de US$ 2 trilhões dos Estados Unidos

Narvikk

Na noite da terça-feira 24, a Casa Branca conseguiu aprovar, no Senado, o maior plano de resgate econômico da história dos Estados Unidos. Republicanos e democratas concordaram em liberar US$ 2 trilhões a empresas e cidadãos, com o objetivo de minimizar os prejuízos causados pelo coronavírus. O valor, pouco mais de R$ 10 trilhões, é quase 40% superior ao PIB do Brasil, que ficou em torno de R$ 7,2 trilhões no ano passado. O acordo entre o governo Trump e as bancadas republicana e democrata só foi finalizado na madrugada da quarta-feira 25, depois de cinco dias de muitos debates e negociações. Como praticamente todos os grandes países do mundo, os Estados Unidos estão em regime de quarentena, com empresas, escolas e grande parte do comércio fechados. No país, já são são quase 60 mil pessoas contaminadas pelo coronavírus e mais de 800 mortes. Em seu pronunciamento, o senador republicano Mitch McConnell afirmou: “O coronavírus é a ameaça mais séria para a saúde dos norte-americanos em um século e provavelmente o maior risco para o emprego e a prosperidade dos EUA desde a Grande Depressão”. Após a votação no Senado, o pacotaço terá de passar pelo crivo da Câmara de Representantes – o equivalente à Câmara dos Deputados.

COI decide adiar Olimpíada de Tóquio

Demorou, mas saiu. Como toda a comunidade esportiva mundial já esperava que acontecesse, o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou, na terça-feira 24, que a Olimpíada de Tóquio será adiada. Marcados para terem início no dia 24 de julho, os Jogos Olímpicos tiveram sua realização postergada para 2021. É a primeira vez na história que uma Olimpíada é adiada. Já houve cancelamento em três ocasiões (1916, 1940 e 1944), por causa da Primeira e da Segunda Guerras mundiais. O anúncio foi feito a jornalistas pelo primeiro-ministro do Japão, Abe Shinzo. O comunicado oficial foi assinado em conjunto pelo COI e pelo governo japonês. “Baseados em informações da Organização Mundial da Saúde, o presidente do COI e o primeiro-ministro do Japão concluíram que os Jogos devem ser reagendados, para garantir a saúde de atletas, de todos os envolvidos nos Jogos e da comunidade internacional”, diz o comunicado. Apesar do adiamento, os organizadores decidiram manter o nome original da competição: Tóquio 2020.

PGR e Eike fecham acordo de delação premiada

Pedro Ladeira

Na segunda-feira 23, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o empresário Eike Batista, que já foi o homem mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo, firmaram acordo de delação premiada. Segundo o trato, Eike pagará R$ 800 milhões no prazo de cinco anos pelos crimes que cometeu. O acordo ainda precisa ser homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Preso no início de 2017, Eike foi acusado pelo Ministério Público Federal de participar de um esquema de propinas comandado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. O empresário, que chegou a ter seu nome incluído na lista de foragidos da Interpol, foi acusado de lavagem de dinheiro, por pagar US$ 16,5 milhões a Cabral. Do total que Eike terá de quitar com a Justiça, há uma primeira parcela à vista, de R$ 116 milhões. O restante (R$ 684 milhões) será pago no prazo de quatro anos. Segundo o procurador-geral da República, Augusto Aras, a primeira parcela do acordo será destinada ao combate ao coronavírus. Além de pagar os R$ 800 milhões, o empresário terá de cumprir um ano de prisão em regime fechado, seguido de um ano em domiciliar e outros dois em semi-aberto.