O uso de novas tecnologias tem despertado um lado maniqueísta em grande parte das pessoas: amor ou ódio, fim ou começo, avanço ou retrocesso, desespero ou salvação. Em meio ao ambiente cada vez mais “8 ou 80”, discussões a respeito do papel das pessoas em uma sociedade mais centrada em dados também são levantadas: afinal, todos teremos empregos? É necessário ter uma renda universal para as funções extintas? Como viverão as sociedades do futuro?

Essa relação aparentemente invisível entre humanos e robôs pode levar, à primeira vista, a um entendimento de que seu impacto será restrito às funções de produção. Isso está longe de ser verdade. Até 2025, robôs devem estar presentes até mesmo nos conselhos administrativos de grandes empresas, segundo pesquisa do Fórum Econômico Mundial.

Gerenciar um robô ou ter uma máquina desse tipo colega de trabalho pode até causar estranhamento. E isso tende a ficar ainda mais complicado se pensarmos que, no futuro, poderemos ser liderados por sistemas de inteligência artificial. Embora a ideia pareça distante, cabe aqui considerar as principais atividades de um gestor: usar dados para analisar problemas e tomar decisões; monitorar a performance da equipe; determinar metas; dar feedback. Todas essas atividades já podem ser desempenhadas de maneira individual por sistemas em operação. E com alguns pontos positivos: evitam-se confrontos de personalidade e os feedbacks são mais objetivos e imparciais.

Um exemplo claro de como isso pode acontecer está no recrutamento e seleção. Hoje, a tecnologia pode ajudar as lideranças a reunirem dados que tracem o perfil dos funcionários e os comportamentos que melhor se adaptem à organização. Isso traz agilidade na hora de selecionar candidatos e direcionar treinamentos específicos para esses jovens. Os robôs colaborativos, também conhecidos como Cobots, são cada vez mais utilizados para aumentar a eficiência e produtividade. Diferentemente de outros robôs industriais, que ficam em áreas restritas, estes são desenvolvidos para trabalhar com seus correspondentes humanos, com técnicas de segurança que eliminam a necessidade de barreiras entre os trabalhadores e o robô.

Cabe destacar que, amparados na tecnologia, também surgirão novos perfis, mercados e negócios onde os profissionais poderão se desenvolver — e que nos levarão, no longo prazo, a uma redefinição ou até mesmo ampliação de postos de trabalho, mostrando que a robotização não implica na redução ou desaparecimento da oferta de emprego.

Mesmo com todos esses benefícios, é necessário lembrar que a convivência profissional entre máquinas e seres humanos poderá trazer desafios. Estudos no campo da computação afetiva, setor da robótica que analisa os estados emocionais dos seres humanos para que as máquinas respondam adequadamente a eles, demonstram que a relação entre humanos e robôs será mais complexa do que aquela que temos com nossos computadores.

Em suma, o momento pede dedicação e cautela ao adotar a robotização no ambiente de trabalho. Ainda há muitos benefícios e desafios a serem explorados por diversos setores em muitas funções e cargos. Para além de uma visão de “certo” e “errado”, é necessário pensar que essa convivência vai existir. E descobrir como viver nesse novo ambiente é uma tarefa essencial para os profissionais dos próximos anos — especialmente os líderes.

(*) Jorge Arduh é CEO da Indra no Brasil