Olá, pessoal! Tudo bem? O ano começou com notícias ruins em relação à pandemia – explosão de casos e baixo volume de vacinas. Na minha avaliação, o tema coronavírus tende a ser o maior entrave à recuperação da economia brasileira, e o Banco Central (BC) não vai ignorá-lo na hora de definir a taxa básica de juros (Selic).

Mantenho o meu cenário de crescimento de 3,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021. Se concretizado, será um bom resultado, mas que não vai recuperar o tombo de 4% a 5% no ano passado. O atraso nas vacinas, no entanto, pode desacelerar essa recuperação econômica, especialmente no segundo semestre, quando a maior parte da população já deveria estar vacinada.

Neste contexto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu, nesta quarta-feira 20, manter a Selic em 2%, mas deixou aberta a possibilidade de elevações nos juros ao longo do ano. O Copom ressaltou, entretanto, que as eventuais altas não serão “mecânicas”, ou seja, dependerão de uma avaliação prévia do balanço de riscos para a inflação.

Sendo assim, avalio que a necessidade de elevação dos juros vai diminuir à medida em que a vacinação for atrasando, já que a economia tende a crescer menos. O cenário inflacionário, porém, não depende apenas do PIB. Uma parte da alta de 23% do IGP-M no ano passado pode respingar na inflação oficial (IPCA) devido à ainda forte indexação da economia brasileira.

Além disso, as expectativas inflacionárias do mercado financeiro costumam ser ancoradas na questão fiscal. Contas públicas no vermelho se traduzem em projeções piores para o IPCA. A boa notícia é que, aparentemente, o governo federal não vai cair na ilusão do populismo econômico e promete cumprir o teto de gastos. Isso, na prática, vai reduzir o rombo nas contas públicas da casa de R$ 850 bilhões (2020) para R$ 250 bilhões (2021). Ainda é um resultado terrível, mas demonstra que a equipe econômica mantém o controle das ações fiscais.

Aliás, quanto mais benéfica for a trajetória da dívida pública, menor será a pressão dos investidores por elevação dos juros. O raciocínio é simples: um estrangeiro estaria disposto a comprar título público brasileiro para ganhar juro de 2% ao ano, se o País correr o risco de quebrar? A resposta óbvia é não. Nesse caso, a saída é aumentar os juros para compensar o risco fiscal ou melhorar a situação fiscal. Por ora, felizmente, estamos optando pela segunda opção.

Concluo assim que, em resposta à pergunta feito no título deste artigo, os juros precisam subir, sim, em 2021, mas a intensidade da alta vai depender dos fatores listados acima. Por ora, mantenho a minha previsão de Selic a 3% no fim do ano, embora existam analistas projetando juros básicos acima de 5%. Na minha opinião, seria um erro do BC.