A obra é do início dos anos 1970. A novela por sua reconstrução já tem 17 anos. Tanto tempo pode explicar como a saga de uma histórica passarela de pedestres anexa ao Aeroporto de Congonhas pode envolver gerações: três, no caso da família Artigas; duas da família Camargo.

Marco Artigas Forti tem 34 anos e é neto do grande nome da arquitetura paulista João Vilanova Artigas (1915-1985). “Costumo dizer que ele me conheceu, mas eu não o conheci, já que não tenho nenhuma lembrança dele vivo”, conta ele. A arquitetura está no DNA da família. Um dos filhos de João, Júlio também se tornou arquiteto. E a mãe de Marco, Rosa, virou historiadora – mas construiu a carreira como professora de História da Arquitetura.

“Já levei muito isso para sessões de terapia. E cheguei à conclusão de que não poderia ter me tornado outra coisa senão arquiteto”, comenta Marco. A esta altura do texto, o leitor mais atento já deve supor que João Vilanova Artigas era o dono da prancheta de onde saiu o desenho da famosa passarela, ainda nos anos 1970. “Ele fez na época um conjunto de passarelas, a serviço da Emurb, a empresa municipal de urbanismo”, contextualiza Marco.

Quando surgiram os primeiros esforços para a recuperação da passarela, há 17 anos, o arquiteto contratado foi Júlio, o filho de João, o tio de Marco. Houve tantas reviravoltas no processo que em 2015 chegou a vez de Marco herdar a missão. “Aí já estava tão deteriorada a (passarela) original que ela foi retirada e, no lugar, colocada essa de andaimes que existe hoje, provisoriamente”, diz. “Na verdade desenhamos uma nova passarela, mas aproveitamos, como herança do projeto de meu avô, a estrutura de concreto. A lógica estrutural vai ser a mesma”, explica. “Mas será com cobertura e acessibilidade.”

Antes de tomar contato profissional com esta obra do avô, Marco, que se formou em 2006 pela Escola da Cidade, passou por dois escritórios de arquitetura brasileiros e um espanhol – em uma temporada em que viveu em Barcelona, cursando pós-graduação. Desde 2013, tem o próprio escritório de arquitetura, com uma estrutura enxuta: ele e uma arquiteta funcionária.

Parceria

Sua parceira neste projeto é uma amiga de muito tempo: a arquiteta Helena Dias de Oliveira Camargo, de 33 anos, formada em 2006 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – eles se conheceram no primeiro ano da faculdade, antes de Marco se transferir para a Escola da Cidade.

Se Helena ainda não é nome conhecido na história do urbanismo paulistano, uma de suas invencionices já é bastante popular por aqui. Foi uma das criadoras do conceito dos parklets paulistanos, aquelas minipraças criadas em vagas de veículos, sobretudo na frente de estabelecimentos comerciais. Em 2013, envolveu-se com alguns coletivos – como o DesignOK – na implementação dos parklets em São Paulo. “A gente ‘escreveu’, junto com a Prefeitura, o decreto e o manual. Olha, conheci a Prefeitura inteira”, revela. “Foi um ano e meio batendo de porta em porta.”

Seu escritório, H2C Arquitetura, foi criado ainda quando ela estava na faculdade. “Minha trajetória está marcada por muitas parcerias com outros escritórios.” Aos 24 anos, foi responsável pelo projeto da sede paulistana da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), na frente do Aeroporto de Congonhas.

“Sempre fui uma arquiteta de obras construídas. Noventa por cento das coisas que me envolvi foi muito no intuito de realização”, afirma. “Isto me trouxe uma experiência de obra, de vivência.” Helena é sobrinha do empresário Carlos Alberto Camargo, que criou em 1999 a Associação dos Amigos da Passarela (Aspa). Está, portanto, ligada familiarmente ao projeto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.