Preparem os motores! A temporada de investimentos está aberta. E ela vem movida a grandes levas de recursos, de várias partes do mundo e com o fôlego de empresas que aguardaram tempo demais até enxergarem um cenário razoavelmente estável para a tomada de decisões dos desembolsos. O que está por trás da movimentação não é nenhuma medida específica ou resultado macroeconômico concreto. O mero fim das eleições tirou da frente o último obstáculo que emperrava a retomada. Depois de anos de recessão petista, a perspectiva de decolagem surgiu ainda no ano passado, no início do período Temer, com a rearrumação da casa – inflação retornando aos eixos, juros mais civilizados, câmbio equilibrado e o estabelecimento de teto dos gastos nas estatais.

O ambiente propício foi contaminado pelas denúncias da Lava-Jato que crivaram o governo a ponto de deixá-lo sem forças para levar adiante reformas vitais como a da previdência. Apesar dos indicadores razoavelmente estáveis, as empresas hesitaram em fazer apostas de vulto até pela indefinição eleitoral, que desembarcou a seguir com a campanha presidencial. A crise de expectativas se instaurou ao longo de praticamente todo o ano e só agora começa a espairecer. O temor de uma ascensão petista com o seu modelo intervencionista foi afastado. Os ventos liberalizantes lançados pela equipe do presidente eleito Jair Bolsonaro animam o mercado.

Alguns economistas começam a apontar que o PIB pode superar a casa de 3% em 2019. Claro que existem prerrogativas mínimas para uma estimativa tão promissora. A maior delas é o necessário apoio do Congresso e da sociedade para que o mandatário consiga levar adiante as medidas de disciplina fiscal, naturalmente antipáticas, para o controle do déficit. E elas são muitas. Um bom roteiro de ajuste da economia começa por atacar os problemas que emperram a produtividade e a competitividade. A carga tributária, por exemplo, é o maior deles. A liberação de crédito e a facilidade legislativa para a abertura de negócios também devem vir no pacote.

Nesse pormenor, o Brasil segue como uma das nações mais ariscas ao empreendedorismo nativo. O excesso de burocracia, de exigências para a abertura e fechamento de empresas, desestimula fortemente novos projetos. Mesmo assim, é alvissareira a perspectiva de inversões nos próximos meses. Grupos chineses, europeus e americanos – muitos deles já com bases instaladas internamente – passaram a anunciar sistematicamente, nos últimos dias, aportes de capital por essas bandas, seja na ampliação de linhas, seja em aquisições, fusões e incorporações de companhias que aqui operam. É uma onda numa dimensão poucas vezes vista, que deve mudar a cara e o tamanho do parque nacional em pouco tempo.

(Nota publicada na Edição 1095 da Revista Dinheiro)