Nesta segunda-feira (5), exatos 27 anos após sua fundação, a Amazon formalizou sua já anunciada troca de comando. O fundador Jeff Bezos deixou a presidência da companhia e ascendeu para a presidência do Conselho. Na véspera, enquanto os americanos encerravam as comemorações do Dia da Independência, o governo chinês inaugurou um novo capítulo na disputa com os gigantes da tecnologia da China. E, embora não pareça, os dois fatos estão ligados.

Começando pela China. No domingo, a Administração do Ciberespaço da China (CAC), órgão estatal encarregado do controle das informações (mas pode chamar de censura) ordenou que as lojas de aplicativos do gigantesco mercado removessem o aplicativo de compartilhamento de veículos Didi. A justificativa para a proibição foi que a empresa havia se envolvido na coleta e uso ilegal de dados pessoais.

Do outro lado do Oceano Pacífico, a saída de Jeff Bezos da presidência executiva da Amazon visa, entre outros objetivos, tornar menos pessoal a imagem da gigante da tecnologia. A Amazon nunca ganhou tanto dinheiro quanto nos tempos de pandemia. E nunca esteve tão na mira das autoridades dos Estados Unidos e da Europa. Com mais de 1,3 milhão de funcionários ao redor do mundo, a companhia é acusada de maus-tratos a seus empregados, controlando até o horário das idas aos sanitários. Caberá a Andrew Jassy, um executivo que está na empresa desde 1997 e criou a Amazon Web Services e é o sucessor de Bezos, lidar com essas questões complicadas.

A relevância das “big techs” na vida cotidiana não passou desapercebida na China nem nos Estados Unidos. Essas empresas já eram ubíquas. Agora, com a pandemia, tornaram-se dominantes. Já controlam boa parte do varejo, dos transportes, do entretenimento, e estão a poucos passos de ser capazes de alijar os bancos tradicionais de sua posição. Por isso a pressão exercida pelos governos.

Na China, onde há menos preocupação com as aparências, o governo vem fechando o cerco às gigantes da tecnologia nos últimos meses. O processo tornou-se mais visível com o cancelamento da abertura de capital do Ant Group, anteriormente denominado Alipay, em novembro do ano passado. O IPO poderá ter sido o maior da história, movimentando US$ 34,5 bilhões. O Alibaba, controlador do Ant Group, recebeu uma multa de US$ 2,8 bilhões em abril deste ano por práticas antitruste. E, agora, a interferência direta nos downloads do Didi, que havia captado US$ 4,4 bilhões em sua abertura de capital na semana passada.

Um breve paralelo histórico mostra que isso já ocorreu antes. Há 110 anos, em uma decisão histórica, a Suprema Corte americana determinou que a Standard Oil, do magnata John D. Rockefeller, possuía um monopólio na extração, refino e distribuição de petróleo nos Estados Unidos e suas atividades teriam de ser separadas. O império do magnata foi dividido em 34 empresas. Algumas, como a Exxon e a Chevron, ainda existem. Assim, nada impede uma intervenção nos negócios das Big Techs para reduzir sua influência sobre as atividades cotidianas.