No início era a realidade, mas como ela parecesse insuficiente, George Lucas inventou o cinema digital. Desde então o mundo do entretenimento e da tecnologia nunca mais foi o mesmo. Do som estéreo que invade as salas de cinema aos jogos de videogames em três dimensões, tudo tem a mão do criador de Guerra nas Estrelas. Na semana passada, com a estréia mundial de A Vingança dos Sith, último episódio da série, já se podia fechar o balanço empresarial da saga. Além de afetar diretamente todos os filmes que se utilizam de efeitos especiais nos últimos 28 anos, revolucionando a indústria cinematográfica, Guerra nas Estrelas foi além. Da série resultou a invenção de 27 diferentes tecnologias, a criação de 15 empresas de renome e a formação de uma geração de empreendedores que não existiriam sem a presença da Força. São os filhos de Darth Vader. Para entender quem são e como são influentes, basta mencionar nomes como Pixar, Adobe, Avid, Digital Domain, Sonic Solution e Bioware, todas elas empresas criadas ou transformadas pela presença de funcionários ou pelas idéias geradas em uma das três companhias de Lucas ? Industrial Light & Magic, Skywalker Sound e LucasArts. ?Metade das empresas desta região são filhotes da Lucas?, afirma Robert Huebener, ex-funcionário da LucasArts que em 1998 criou sua própria companhia. Muitos outros fizeram o mesmo.

Isso foi possível porque Lucas nunca quis ganhar dinheiro com royalties. ?Não sou um capitalista de risco?, costuma dizer. Assim, passou adiante, a preço baixo, conceitos e programas que, mais tarde, apareceriam em aparelhos de som domésticos, telefones celulares e aparelhos de imagem médica. Os exemplos são muitos, a começar pelo programa RenderMan, de manipulação de imagens. Sua base foi criada no interior da Industrial Light & Magic em 1979, para superar o atraso no tratamento de imagens que Lucas havia confrontado ao fazer o primeiro Star Wars, em 1977. Em 1986, no que ficou conhecido como um dos piores negócios da indústria de tecnologia, Lucas vendeu por US$ 10 milhões sua divisão de computação para Steven Jobs, que com ele fundou a Pixar. A nova empresa finalizou o RenderMan, fez com ele em 1995 o longa metragem Toy Story (primeiro filme animado por computador) e, desde estão, o programa, devidamente patenteado, nunca mais deixou de ser usado pela indústria de cinema. Foi responsável sozinho por 33 dos últimos 35 Oscars de efeitos especiais. A Pixar vale hoje US$ 5,3 bilhões.

Outro spin-off famoso da Lucas é o Photoshop, programa de tratamento de imagens que deu fama à Adobe, uma empresa global que vale US$ 15 bilhões. O produto foi comprado em 1988 de John Knoll, diretor de efeitos especiais que fez os três últimos filmes de Guerra nas Estrelas. Mais recentemente, os recursos criados na fábrica de Lucas serviram para criação da Bioware, que faz jogos para PCs e videogames. É dela o RPG Knights of Old Republic, baseado em Guerra nas Estrelas, que já vendeu mais de 2,5 milhões de cópias e recebeu mais de 100 prêmios. Agora, com o fim da saga, a fábrica de empreendedores de Lucas tomará outro rumo, preparando-se para competir com os neozelandeses criadores de Senhor dos Anéis. Em julho próximo, seus três ramos e 1 500 funcionários irão se juntar em uma gigantesca área de San Francisco, com 2,5 milhões de metros quadrados, montada ao custo de US$ 350 milhões. Ali, Lucas pretende fazer com que filmes e games sejam criados simultaneamente ? revolucionando, de novo, o mundo do entretenimento e abrindo a porta para outras idéias que ganharão o mercado nos próximos anos.