Segundo estudo publicado pelas economistas Luiza Nassif Pires, da Bard College (EUA), e Laura Carvalho, da USP, em parceria com a médica e pesquisadora Laura de Lima Xavier, da Universidade Harvard, pessoas que pertencem às classes socioeconômicas menos favorecidas têm, proporcionalmente, mais comorbidades como hipertensão, obesidade e diabetes. Esses indivíduos têm naturalmente maior probabilidade de apresentar problemas de saúde e menos acesso a hospitais.

Soma-se a isso o fato de que trabalhadores de menor renda têm poucas oportunidades de se isolar prestando serviços remotamente. Isso porque muitas das atividades que exercem nem sequer podem ocorrer fora do local físico de trabalho. É o caso de serviços como limpeza, operação de máquinas ou segurança. Um estudo recente apontou que, na região Norte, para cada trabalhador capaz de realizar suas atividades em regime de home office há cinco que desempenham funções presenciais. Além de mais numerosos, são também mais vulneráveis por estarem expostos ao transporte público.

Dados do Ministério da Saúde apontam que a desigualdade também atinge a política de testes no Brasil. Até maio, apenas 52,8% dos casos foram confirmados por laboratórios públicos.

Outra causa, quase oculta e por isso pouco discutida, é a falta de acesso ao sistema financeiro. Dados do Ministério da Economia indicam que entre 35 milhões e 45 milhões de brasileiros não possuem conta corrente ou poupança. A inclusão financeira permitiria que mais pessoas comprassem produtos essenciais pelo e-commerce. A entrada no sistema financeiro também possibilitaria acesso a serviços populares de saúde por telemedicina. Não faltam exemplos de serviços oferecidos a preços populares, incluindo a possibilidade de avaliação de diversas enfermidades, bem como acompanhamento de casos suspeitos de Covid-19 para que a busca por tratamento seja feita antes do surgimento de sintomas avançados da doença.

Um estudo publicado pela The Lancet destaca que as regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas pelo novo coronavírus. Essas regiões também são as que concentram as maiores porcentagens de adultos desbancarizados, com 40% e 37% da população não bancarizada, respectivamente, de acordo com os dados do alt.bank. A pesquisa mostra que mais da metade dos negros (55%) internados em hospitais no Brasil com SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), com confirmação de Covid-19, morreram. Em comparação, apenas 38% da população branca em situação similar perderam suas vidas. Não por acaso, 69% dos brasileiros sem banco são negros, de acordo com dados do Instituto Locomotiva.

Portanto, todos os fatores estão relacionados entre si e também são conectados com aumento de mortes devido ao novo coronavírus. Quando avaliamos as taxas de desbancarizados no Brasil, a correlação é clara: aqueles que são excluídos do sistema financeiro sofrem desproporcionalmente de Covid-19.

Fabio Silva é diretor-geral do alt.bank no Brasil