A boa nova no campo dos investimentos no País é o retorno dos chineses ao tabuleiro. E é bom considerar e estimular esse retorno. Depois de o presidente Bolsonaro fazer pouco caso do parceiro, logo no início de gestão, e com isso provocar a ira desse que, historicamente, se transformou no maior aplicador de capital por aqui, eis que as coisas parecem estar voltando ao normal. Os asiáticos haviam reduzido em quase 70% os desembolsos. Sua última grande tacada em território nacional tinha sido em 2017, com a ofensiva no setor elétrico e a compra da CPFL. As incertezas com a corrida presidencial, seguidas pelo alinhamento incondicional do governo brasileiro aos ditames dos EUA, quase comprometeram essa lucrativa via de recursos que azeitava negócios brasileiros. O risco passou. No momento, os chineses estão interessados em empresas de saneamento, estradas, ferrovias e grandes projetos na área de infraestrutura. Passaram novamente a encarar o Brasil como o eldorado do futuro. Na última expedição de compra de estatais, desembolsaram perto de US$ 9 bilhões. Podem vir a gastar mais do que o dobro nos projetos de concessões e privatizações em curso. Eles querem repetir internamente o que já fizeram na África, onde dominaram o setor de infraestrutura de países como Moçambique, Angola e África do Sul. A companhia Sabesp está no radar. Com 28 milhões de clientes em São Paulo e faturamento de R$ 16 bilhões, ela é a joia da coroa do Estado, que detém 50,3% de suas ações, avaliadas em mais de R$ 40 bilhões. Justo e certo é que os chineses não darão um passo maior do que as pernas. Irão olhar para oportunidades potencialmente promissoras e apenas o ritmo das concessões é que estabelecerá qual o volume total de aportes. Não há dúvida de que o apetite dessa turma é enorme e isso vem sendo verificado nas constantes aquisições que fazem pelo mundo. Mesmo os EUA perceberam que estava mais do que na hora de fumar o cachimbo da paz e se entender com o antes rival. Firmaram nos últimos dias um acordo bilateral com vantagens múltiplas. Para o Brasil, resta incentivar essa participação em seus leilões. Serão sete neste ano para a manutenção e construção de estradas, com potencial de arrecadar mais de R$ 42 bilhões. Outros R$ 52 bilhões são esperados na renovação e construção de ferrovias. Com os olhos voltados para as duas opções, os chineses são sérios candidatos ao controle da infraestrutura também por aqui. Com vantagens para ambos os lados.

(Nota publicada na edição 1154 da Revista Dinheiro)