Os números apresentados na semana passada são grandiosos. Juntos, os três principais candidatos à Presidência declararam ao Tribunal Superior Eleitoral que podem gastar até R$ 427 milhões com a campanha que levará um deles à rampa do Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro – o tucano José Serra tem a campanha mais cara, seguido pela petista Dilma Rousseff e por Marina Silva, do PV.

Apesar disso, essa cifra mostra apenas uma parte dos gastos. Especialistas estimam que o custo real da campanha presidencial, que começou oficialmente na semana passada, será de pelo menos R$ 1 bilhão.
 

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R$ 157 mi­lhões é a estimativa de gastos da candidata Dilma Rousseff, que terá 
o maior tempo no horário eleitoral gratuito: 10 minutos e 39 segundos

 

Incluindo todos os cargos que serão preenchidos no dia 3 de outubro, nas disputas para os governos estaduais, a Câmara dos Deputados, o Senado e as Assembleias Legislativas, as despesas chegam a R$ 10 bilhões, com impacto direto na economia.

Os investimentos na conquista do eleitor sempre aquecem a economia. São comprados serviços que vão desde a produção de programas de tevê até aluguel de carros e contratação de cabos eleitorais, além dos gastos públicos, que ficam mais acelerados quando há renovação de mandato.

Este ano, com o crescimento atual estimado em quase 7% para o ano, a contribuição da eleição será menos sentida. Com a proibição de distribuição de brindes de qualquer natureza – mesmo os tradicionais chaveiros, camisetas e calendários –, sumiram as despesas com este tipo de material, mas ficaram mantidos os gastos com programas de rádio e tevê, telemarketing, estrutura de viagem e internet.

Além dos doadores tradicionais – empresas que pretendem fazer negócio com o governo –, este ano as campanhas poderão contar com os novos, pequenos doadores, que poderão fazer contribuições com cartões de crédito e pela internet, opção liberada pelo TSE, o que já anima integrantes dos comitês. “Nos Estados Unidos, o Barack Obama arrecadou US$ 760 milhões pela internet, dos quais US$ 500 milhões em doações inferiores a US$ 100”, disse à DINHEIRO o coordenador de redes sociais da campanha de Dilma, Marcelo Branco.
 

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R$ 180 mi­lhões é a previsão de despesas do PSDB na campanha de José Serra,
que direcionará a maior parte dos recursos para a comunicação

 

“Aqui, não temos a mesma expectativa, mas tudo que entrar pela rede será um dinheiro novo”, afirma. A campanha de Marina, com apenas um minuto e 30 segundos de tempo no horário eleitoral gratuito, vê a internet como um meio importante de

divulgação e o cartão de crédito como uma ferramenta importante para inverter a ordem tradicional de poucos doadores de grandes quantias para muitos doando valores pequenos. “Vamos dar ao eleitor uma opção segura e transparente para o doar”, afirma João Paulo Capobianco, coordenador da campanha de Marina.

O site da candidata já tem uma área para as doações com cartão e que começa a funcionar assim que o partido receber um CNPJ. Mas Marina não vai ficar restrita aos pequenos doadores. O tesoureiro da candidata do Partido Verde é Álvaro de Souza, ex-presidente do Citibank no Brasil.
 

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R$ 90 mi­lhões serão investidos pelo PV na chapa liderada por Marina Silva, 
que tem como vice um dos homens mais ricos do Brasil

 

Souza ainda não começou a organizar eventos públicos, mas já circula entre empresários, fazendo contatos informais em busca de apoio financeiro para a campanha. Só serão vetadas as doações de empresas fabricantes de armas e de cigarros.

O tesoureiro de Dilma Rousseff, José Filippi Junior, é o mesmo que coordenou as finanças na campanha do presidente Lula em 2006. Mas, se aquela campanha custou R$ 91,4 milhões, desta vez a estimativa de gastos é de R$ 157 milhões, 74% a mais, e boa parte dos recursos deve ser destinada à produção dos programas de rádio e tevê. Mas ainda não se definiu a estratégia de arrecadação. “Não tivemos reunião sobre isso”, disse à DINHEIRO um dos coordenadores da campanha, o deputado José Eduardo Cardozo.

No PSDB, José Gregori, tesoureiro de José Serra, calcula que pelo menos 60% dos recursos serão usados em publicidade. O restante será gasto com locomoção das equipes e distribuição do material de campanha. O PSDB também usará a internet para arrecadar, mas não espera obter um volume significativo de recursos.

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Na avaliação do partido, a necessidade de identificação do doador vai desestimular o uso da ferramenta. Gregori já cuidou das campanhas de Serra para a prefeitura e o governo do Estado, e já está se reunindo com potenciais doadores. Na campanha de Geraldo Alckmin, em 2006, um quinto dos recursos foi destinado aos programas de rádio e tevê.

O endurecimento das regras para doação e gastos de campanha criou uma série de proibições, mas elas podem ter tido o efeito inverso do esperado, na avaliação de especialistas, e, em vez de coibir, até estimular o uso do caixa 2.

“É um pouco paradoxal: o aumento do controle na caixa oficial pressiona para a ilegalidade”, diz o cientista político David Fleischer. O cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília, calcula que o custo real da campanha é de pelo menos o dobro do declarado pelos candidatos – e não apenas na corrida presidencial, mas também nos demais cargos.

“O custo real é bem maior do que é declarado. Isso numa conta conservadora”, diz Caldas. Ele estima que a campanha presidencial vai custar cerca de R$ 1 bilhão, e todas as outras, juntas, não sairão por menos de R$ 10 bilhões.

“As regras pioraram. Como não se pode mais comprar chaveiro, camiseta, calendário, agora todos os gastos vão para o cabo eleitoral. E aí é onde há compra de voto”, completa. A saída, na sua avaliação, é baratear a campanha mudando o sistema de governo para parlamentarista e o voto para distrital, em vez do atual sistema proporcional.

O cientista político Antonio Lavareda acha que o motivo para o custo elevado da campanha são os grandes blocos de programa eleitoral, que são caros e ineficientes, porque o eleitor não gosta deles.

Ele concorda que a internet é a grande novidade da campanha, mas é menos otimista sobre o seu impacto. “A grande expectativa é de que papel a internet terá. Muitos analistas, inclusive eu, têm dúvidas se a doação eletrônica, feita por pessoas físicas, terá papel importante”, diz. De todo modo, é a campanha mais cara da história.