Chova ou faça sol, o produtor rural precisa cuidar da plantação para garantir sua colheita. No mercado financeiro, o cotista de um Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas do Agronegócio (Fiagro) também deve ficar consciente dos riscos climáticos que podem atrapalhar seus ganhos. Até agora, porém, essa ameaça não teve impacto no pagamento de dividendos. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o segmento alcançou patrimônio líquido de R$ 8,9 bilhões com 38 fundos de 33 gestores em 2022. O resultado é muito superior ao montante de R$ 1,23 bilhão de 2021, quando o Fiagro nasceu. Para o CEO da gestora Kijani, Bruno Santana, o Fiagro possui potencial para multiplicar de tamanho em 2023 e nos próximos anos. “O estoque de recebíveis supera R$ 100 bilhões, e o Fiagro possui potencial gigantesco para servir de instrumento de concessão de crédito com juros atrativos para os investidores”, afirmou. “Vemos um oceano azul em 2023. O crescimento vai acontecer em maior velocidade e maior volume.”

Ainda que reconheça o retorno positivo e acredite em mais ganhos no futuro, Santana mantém o alerta em relação ao clima. “O agro teve bons anos, mas é cíclico, tem momentos de pico e de vale”, afirmou. Ele diz que os problemas climáticos são recorrentes. “Vão acontecer e afetar os tomadores de crédito.” Para minimizar esses riscos, Santana trabalha com uma carteira diversificada em diferentes culturas e regiões do País. “O máximo de pulverização possível, de tomadores de Norte a Sul, e de toda a cadeia do agro, soja, pecuária, empresas produtoras de fertilizantes biológicas, sementeiras e de frutas”, disse.

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“Há Fiagro rendendo DI +5% até DI +8% em determinados períodos, bem acima da renda fixa” Guilherme Grahl, associado da Valora Investimentos.

SEM IMPOSTO DE RENDA A quase totalidade dos Fiagros que estão listados na B3 compra certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) para compor suas carteiras e entregar dividendos mensais aos cotistas. O modelo é o mesmo dos fundos que comercializam certificados de recebíveis imobiliários (CRIs). A essa vantagem para o investidor que prefere receber valores regularmente na conta soma-se o benefício da isenção do Imposto de Renda (IR) sobre os proventos. Segundo Guilherme Grahl, associado da Valora Investimentos, os Fiagros estão alcançando rentabilidade superior à dos fundos de renda fixa tradicionais, que rendem próximo do CDI (a taxa de depósito interfinanceiro, que está em 13,65% ao ano). “Há Fiagro rendendo de DI +5% ao ano até DI +8% em determinados períodos, bem acima da renda fixa”, afirmou Grahl.

Um levantamento da Órama com dados coletados pela Quantum Axis mostra que os 21 Fiagros disponíveis no mercado secundário (negociados na Bolsa) estavam pagando, em média, 133% do DI em dezembro de 2022, o equivalente a 1,49% ao mês. Entre as estrelas de rentabilidade em dezembro estavam, pela ordem, Leste LSAG (1,62% ao mês), Capitânia CPTR (1,44%), FG/A FGAA (1,43%), Valora VGIA (1,42%) e Fator OIAG (1,39%).

O Fiagro da Valora (VGIA), segundo Grahl, rende DI +5,7% ao ano. Ele atende cooperativas e uma carteira de mais de 10 mil produtores rurais. “Estava mais concentrado na região Sul, em grãos. Agora, estamos entrando no Centro-Oeste, alguma coisa com biocombustíveis, cana-de-açúcar (usinas) em São Paulo e Minas Gerais”, disse Grahl.

Assim como ele, os gestores do Fiagro AAZQ, da AZ Quest, também adotam uma estratégia de pulverização dos riscos. “É um Fiagro de crédito, com oportunidades no setor de insumos, fertilizantes, toda a parte de processamento de alimentos e bebidas, vinho, frutas, arroz e laticínios”, afirmou a especialista em agro Maria Tereza Romani. Para seu colega na gestão do Fiagro AAZQ, Idalicio Silva, o único risco que não pode ser evitado é mesmo o do clima. “O produtor pode colher menos por causa de uma seca ou atrasar a safra por haver chuva demais”, disse.

Em patrimônio, o maior Fiagro é o Rura, da Itaú Asset, com R$ 673 milhões em recursos. Ele entregou dividend yield (retorno proporcional ao valor da cota) de 18,12% em 2022 e uma rentabilidade de 1,1% ao mês em dezembro. Alheio ao clima, o Fiagro tem rendido bons frutos para o investidor.