Até pouco tempo, o Brasil estava à caça de unicórnios, como são chamadas as startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. Neste começo do ano, eles apareceram. O primeiro deles foi o aplicativo de transporte 99, comprado pela chinesa Didi Chuxing, considerada a Uber da China, em janeiro deste ano. Logo na sequência, a abertura do capital da PagSeguro, na Bolsa de Nova York, revelou uma nova companhia bilionária brasileira. A empresa do grupo UOL, que faz sucesso com uma máquina de cartão, foi avaliada em mais de US$ 10 bilhões. Agora chegou a vez do Nubank, uma fintech fundada pelo colombiano David Vélez, em 2014, dono de um cartão de crédito roxo que já conquistou mais de 3 milhões de clientes no Brasil.

Na quinta-feira, 1o de março, o Nubank anunciou ter recebido um novo aporte de US$ 150 milhões, liderado pelo fundo DST Global, do megainvestidor russo Yuri Milner, dono de uma fortuna estimada em US$ 3,8 bilhões. Com o investimento, a startup foi avaliada em mais de US$ 2 bilhões, segundo apurou a DINHEIRO. “Essa marca bilionária não diz muito”, disse Vélez, à DINHEIRO. “Estamos focados nas metas e nos objetivos.” Desde sua fundação, o Nubank havia recebido cinco rodadas de investimentos de fundos como Sequoia Capital, Tiger Global Management e Founders Fund, que somaram
US$ 180 milhões. Após essa nova captação, a sexta, o Nubank já levantou US$ 330 milhões. “Temos condições de escolher nossos investidores”, afirmou Vélez. “Eles têm visão de longo prazo e estão alinhados ao pensamento da companhia.”

Paulo Veras, fundador da 99: startup se tornou o primeiro unicórnio do Brasil, em janeiro (Crédito:João Castellano / Agência Istoé)

Desde o seu surgimento, o Nubank chamou a atenção do mercado. Primeiramente, com um cartão de crédito sem anuidade. Depois, vieram o programa de fidelidade e o registro de contas correntes. As inovações por trás desses serviços fizeram com que a companhia fosse listada pela KPMG como a 12ª startup mais inovadora do mundo no fim de 2017. Com o novo aporte, a empresa de Vélez quer escalar mais um degrau. De acordo com ele, está tudo certo para que o Nubank lance sua financeira. “Nasceremos com mais de um milhão de clientes”, disse Vélez. “Nenhuma financeira no Brasil possui isso.” Vélez não estipulou prazo de quando o novo negócio deve estrear.

O dinheiro novo vai ser destinado para a emissão de mais cartões. Ele também será usado para tornar a companhia menos suscetível a inadimplência dos clientes. Além disso, deve ajudar a empresa a acelerar sua expansão. No primeiro semestre de 2017, a receita líquida avançou 167,5%, para R$ 236,8 milhões. O prejuízo de R$ 39 milhões significa uma queda 36%. O número de funcionários saltou de 350, em janeiro do ano passado, para 930, em fevereiro deste ano. É uma musculatura necessária para competir com os gigantes do mercado financeiro, em uma disputa que vai ficar bem mais acirrada. Em primeiro lugar, pelo porte dos rivais que têm lançado cartões controlados por aplicativos e bancos virtuais. É o caso do Bradesco, por exemplo, que criou o Next, sua plataforma digital para enfrentar as fintechs. “Seria um David contra diversos Golias”, diz Eduardo Endo, diretor dos cursos de MBA da FIAP. “Como o Uber e o iFood, eles usam a tecnologia para criar uma experiência melhor para o usuário.”

Há outros desafios para o Nubank. Um deles é regulatório. Segundo o economista Miguel Daoud, regras como prestação de contas a agências reguladoras ou recolhimento de compulsórios podem desacelerar a operação. “O Nubank é uma grande alternativa, mas que, definitivamente, vai esbarrar na legislação”, diz Daoud. Esse não parece ser um problema para Vélez. Ele teve a ideia de criar o Nubank quando tentou abrir uma conta bancária e enfrentou uma imensa burocracia. Todos diziam que seria impossível competir com os cincos grandes bancos. Mesmo assim, ele não desistiu e conseguiu incomodar os gigantes do setor financeiro.