A “Super Quarta”, quando se encerraram as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e de sua contraparte americana, o Federal Open Market Committee (Fomc), deixaram no ar um clima de fim de festa. Pressionados pelo aumento da inflação, Banco Central do Brasil (BC) e Federal Reserve (Fed), a autoridade monetária americana, enviaram ao mercado sinais claros de que vão começar a segurar a economia. Isso inclui apertos nos juros. No Brasil, a taxa Selic subiu de 3,50% para 4,25% ao ano, como o esperado, o maior patamar registrado desde o início de fevereiro do ano passado, quando chegou a 4,50%. Foi a terceira alta consecutiva.

O BC declarou no Comunicado divulgado após a reunião que considerou o aumento da pressão inflacionária, principalmente nas commodities, e a piora do cenário hídrico, que deve pesar nas tarifas de energia elétrica. A inflação medida pelo IPCA em 12 meses até maio chegou a 8,06%, o nível mais elevado em 25 anos. Não é à toa que o BC deixou em aberto a possibilidade de um novo aumento na próxima reunião, em 45 dias. Se o Copom cumprir a promessa, a Selic vai para os 5% ao ano de dezembro de 2019. O sócio da assessoria de investimentos BRA, João Beck, avalia que os comunicados foram mais duros que os anteriores. No Brasil, especialmente por retirar a expressão “ajuste parcial” da política monetária. “O BC começou a levar a sério a inflação”, disse.

ESTADOS UNIDOS Com dados bem melhores do que os brasileiros, e a expectativa de inflação na casa de 3,4% para este ano e com desemprego girando na casa dos 4,5%, o banco central norte-americano optou por não elevar os juros. Ainda. Mas já sinalizou que poderá fazê-lo antes do planejado. A projeção pode começar em 2023, em vez de 2024, como era esperado pelo mercado. Jerome Powell, presidente do Fed, vem reiterando que os juros deverão permanecer na faixa atual, entre zero e 0,25%. Mesmo assim, a notícia de que o Fed já discute reduzir o ritmo de recompra dos títulos públicos, que permanece em US$ 120 bilhões por mês, agitou o mercado. “Mas vamos avisar antes de mudar”, disse Powell. Desde a reunião de abril, vários governadores regionais do Fed começaram a questionar se não seria hora de desacelerar essas compras, que injetam muito dinheiro na economia.

Diversos indicadores sustentam essa tese. A inflação ao consumidor nos Estados Unidos permanece elevada. Na semana passada, o Bureau of Labor Statistics divulgou que a inflação ao consumidor em 12 meses até o mês de maio era de 5%, maior porcentual desde agosto de 2008. Além disso, os dados de emprego mostram recuperação do mercado de trabalho. Tudo isso pode ser interpretado como indicativos de aquecimento da economia, que justificaria a redução de estímulos.

Apesar de parecidas, as decisões tomadas por Roberto Campos Neto e por Jerome Powell mostram que Brasil e Estados Unidos estão em momentos diferentes do mesmo cenário. Em ambos os casos, os juros se comportaram como o esperado. No entanto, o que mudou foi a sinalização dos dois para o futuro. Numa comparação futebolística, nos Estados Unidos o jogo está nos 35 minutos do segundo tempo. Por aqui, o segundo tempo só começou agora. Por lá, depois de tomar vários gols da pandemia no começo, a economia está em franca recuperação e deve virar o placar em breve. Assim, o mercado acionário americano já subiu bastante e cravou vários recordes devido a estímulos. Por aqui, só agora a vacinação começa avançar e o fim das medidas de isolamento está à vista. Assim, depois de tomar vários gols, a economia brasileira voltou do vestiário revigorada, pronta para virar o jogo. Só que ainda há 45 minutos pela frente, e o time adversário nem sonha em entregar os pontos.