Em entrevista à DINHEIRO, a vice-presidente de finanças da consultoria Capgemini, Glória Guimarães, comenta sobre a importância das fintechs para que os bancos modernizem as experiências oferecidas aos seus clientes. A executiva toma como base o relatório World Fintech Report 2020, produzido pela própria Capgemini, divulgado na semana passada. A conclusão é que os bancos tradicionais podem prosperar no mercado atual ao abraçarem o chamado Open X, que pode ser traduzido como sendo um ambiente aberto e que possibilita a troca de informações livremente entre instituição financeira e fintech, seguindo os padrões de segurança e das leis e normas que regulam o setor bancário.

Quais foram as conclusões do estudo World Fintech Report 2020?
O relatório procura identificar as tendências relacionadas à indústria financeira. O primeiro foi produzido entre 2018 e 2019. O atual é o segundo e se baseia em captar a experiência do cliente.

O que seria essa experiência do cliente?
O cliente atual não quer mais saber de abrir uma conta e esperar cinco dias ou mais para receber o seu cartão. A geração atual quer tudo para ontem e uma experiência completa. Esse é o grande desafio, fazer com que essa experiência se torne rápida e agradável. Para abrir uma conta num banco tradicional, é preciso provar que você é você mesmo. Daí toda a burocracia. Mas as fintechs conseguem fazer isso mais rapidamente por saber usar muito bem a tecnologia, a Inteligência Artificial e a internet das coisas. Elas fazem a análise on-line, em tempo real com muita segurança e rapidez. Outro exemplo: uma vez fiz uma compra com cartão de crédito. Por acidente, a transação foi registrada em duplicidade. Mas o sistema percebeu e consertou automaticamente antes mesmo de eu reclamar. Isso é muito melhor do que ligar para uma central e perder tempo até que um atendente consiga resolver.

Como os bancos podem se tornar mais ágeis?
O nosso relatório aponta que as fintechs são ótimas para se somar aos bancos. Elas podem usar o que têm de melhor, que é a tecnologia, a facilidade de buscar informações na internet, com aquilo que as instituições financeiras têm de mais forte, que é a capacidade de emprestar dinheiro e de administrar crédito. Banco trabalha basicamente para isso.

Mas o ambiente bancário é altamente regulamentado. Como conciliar esses dois mundos?
Os bancos devem colaborar em escala com as fintechs, andar com elas, para permanecer relevantes operando em um ambiente aberto, que chamamos de Open X. Esse conceito funciona da seguinte forma. A fintech tem necessidade de informações que estão nos bancos. Desde que o cliente autorize, essa informação pode ser compartilhada com a fintech. Obviamente devem ser considerados todos os mecanismos de segurança, a Lei Geral de Proteção de Dados e de regulação exigidos dentro do ambiente bancário. Dessa forma, o cliente vai ter confiança de que os seus dados serão bem usados.

Mas o banco não pode investir por conta própria em recursos de inovação?
Não é tão simples assim. Tanto que alguns bancos têm um trabalho de incubação de fintechs. É preciso entender que a inovação está no DNA dessas empresas. Ninguém diz “vou criar um departamento para inovar”. Não funciona assim. As empresas inovadoras surgem e, no caso do sistema financeiro, os bancos podem absorvê-las ou atuar em parceria para aproveitar tudo o que criam de melhor.

Covid-19
Stone: serviço gratuito de saúde

A Stone, fintech de serviços financeiros e de pagamentos, deu início a uma ação de saúde para os seus clientes, por causa do novo coronavírus. A iniciativa permite que uma de suas parceiras, a empresa de tecnologia Vitta, ofereça atendimento médico remoto gratuito, via telefone ou WhatsApp, para clientes da Stone e seus familiares. Dessa forma, eles podem receber orientações médicas sem sair de casa durante o período de isolamento social. Além desta ação, a fintech também oferece transferências eletrônicas (TEDs) ilimitadas aos clientes pelos próximos seis meses, um período para auxiliar microempresários a reinventarem o seu negócio e promover as vendas on-line. Também está promovendo conteúdo no Instagram com orientações e dicas para empreendedores.

Pesquisa fliper
Tesouro Selic 2025, o preferido

Levantamento do Fliper, aplicativo que combina automaticamente informações de investimentos de seus usuários, apresentou o ranking dos ativos preferidos dos brasileiros nesse momento de turbulência. A pesquisa, divulgada na segunda-feira 27, identificou que a maioria dos investidores que usam o Fliper aporta recursos no Tesouro Selic 2025. Os outros ativos que mais receberam investimentos foram ações da Itausa (ITSA4), cotas do fundo de ações Bogari Value, do Tesouro IPCA+ 2035 e ações da Petrobras (PETR4). Além disso, os usuários continuam apostando em fundos de ações, imobiliários (FII) e multimercados, todos ativos de renda variável. O estudo do Fliper foi realizado sobre uma base de 60 mil carteiras de investimento e R$ 7 bilhões de patrimônio mapeados.

Números da semana
R$ 265,6 bilhões

É o valor concedido em créditos pelos cinco maiores bancos do País (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal) entre os dias 16 de março e 17 de abril, segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O período em questão é referente ao primeiro mês da crise em função da Covid-19 e inclui a renovação de contratos, a prorrogação de parcelas, além de novas operações de empréstimos e financiamentos. Se comparado com março de 2019 – já que não há dados para comparar exatamente o mesmo período –, houve crescimento de 22%. Desse montante emprestado, R$ 176,9 bilhões foram em novos créditos, sendo R$ 101,05 bilhões para grandes empresas. Cerca de R$ 36 bilhões foram concedidos para operações de pessoas físicas nas modalidades consignado, financiamento de veículos, crédito imobiliário e crédito pessoal. Segundo o presidente da Febraban, Isaac Sidney Ferreira, o fato de os bancos concederem mais crédito, mesmo com o aumento do risco e do custo de captação, mostra que não está ocorrendo nenhuma retenção de recursos.