Gestores de fundos costumam trabalhar sozinhos. Tomar decisões de investimento é um processo fundamentalmente individual. Algumas gestoras, especialmente as de maior porte e as ligadas a bancos de varejo, adotam comitês para impedir que as decisões dos profissionais não ultrapassem os limites de risco. Porém, duas gestoras independentes, a paulista Trafalgar e a mineira DLM Invista, estão inovando nesse aspecto. Ambas estão lançando um fundo, o DLM Trafalgar, que será gerido por ambas. Não é o único fato inédito: o fundo terá conselheiros externos para assessorar nas decisões de investimento.

Marcelo Castro, CEO da DLM Invista, diz que a intenção do fundo é capturar oportunidades no mercado internacional, onde a taxa de juros para títulos de renda fixa privados está maior do que no Brasil. “No mercado brasileiro, a baixa de juros fez os investidores elevarem muito a demanda por títulos, o que baixou a rentabilidade”, diz ele. Isso não ocorre no mercado internacional, e o fundo pretende aproveitar essas distorções, por meio de uma operação semelhante à arbitragem.

Paulo Corchaki, da Trafalgar: atenção ao mercado internacional de renda fixa (Crédito:Divulgação)

Um exemplo para ilustrar essa diferença são os papéis da produtora de papel e celulose Klabin. A companhia captou recursos tanto no mercado doméstico quanto no mercado internacional. Os papéis brasileiros pagam taxas equivalentes a 115% dos juros de mercado medidos pelo CDI. Os papéis internacionais, já com a rentabilidade convertida para reais, pagam 145% do CDI. “E ambos os títulos têm praticamente o mesmo vencimento, em 2029”, diz Paulo Corchaki, CEO da Trafalgar.

Há outra vantagem, avaliam ambos os gestores. Apesar de os títulos de renda fixa internacionais serem mais voláteis do que os brasileiros, a liquidez do mercado é muito maior lá fora, o que abre mais oportunidades de montar táticas de investimento. “Com isso, o novo fundo vai permitir adotar uma estratégia mais agressiva e oferecer uma rentabilidade maior, sem abrir mão do risco de crédito”, diz Corchaki. O fundo, que começou a captar recursos de investidores qualificados no início de setembro, tem a meta de levantar R$ 1 bilhão. O investimento mínimo é de R$ 20 mil, a taxa de administração é de 1% ao ano e o prazo de resgate é de 60 dias.

Marcelo Castro, da DLM Invista (Crédito:Divulgação)

CONSELHOS A atuação em parceria não é o único ponto inédito do fundo. Ele também conta com dois conselheiros independentes, que auxiliam na avaliação das estratégias. Um deles é Iboty Ioschpe, executivo com décadas de experiência no mercado financeiro e hoje conselheiro da Iochpe Maxion. O outro é o empreendedor Ricardo Vantini, fundador da empresa de galpões Tópico. Ambos têm algo em comum: investem há muitos anos no mercado americano de papéis de renda fixa. “Nós não participamos da gestão, mas contribuímos com nossa experiência para ajudar nas decisões de investimento”, diz Vantini. “Eu acompanho o mercado de perto, dedico a isso três horas do meu dia”, completa Ioschpe.

A estratégia a ser adotada no DLM Trafalgar será de aumentar a rentabilidade, mas evitando excessos de especulação ou de alavancagem. “Vamos operar bastante com tendências de alta ou de baixa nos preços dos ativos”, diz Ioschpe.