A entidade Articulação dos Povos Indígenas expressou sua “completa indignação” com um laudo policial que praticamente descarta que um cacique Wajãpi tenha sido assassinado, e pediu uma investigação “séria” para evitar “uma guerra”.

“É com completa indignação que recebemos a notícia do laudo da Polícia Federal sobre a morte do cacique Emyrá Wajãpi, no qual o órgão nega os indícios de assassinato e afirma que o exame sugere fortemente a ocorrência de afogamento”, disse a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) em um comunicado datado no sábado e divulgado nesta segunda-feira.

O documento aponta supostas contradições entre a autópsia e testemunhos de indígenas, atribuindo-as ao “objetivo de descredibilizar a palavra dos indígenas e também encerrar as investigações, como já vem sendo tentado por autoridades, imprensa local, e especialmente, pelo Governo Federal, interessados na exploração das terras Wajãpi”, diz o comunicado, em referência às ações do presidente Jair Bolsonaro, favorável à expansão do agronegócio e das atividades mineradoras em reservas indígenas e em áreas protegidas.

A APIB reivindica que “que as investigações sejam realizadas de maneira séria e responsável para que uma guerra e mais derramamento de sangue sejam evitados”.

A APIB é uma coordenação de entidades de povos indígenas para a defesa de seus direitos.

Por email, a AFP procurou a Polícia Federal, mas não obteve resposta até o momento.

Emyrá Wajãpi foi encontrado morto em 23 de julho no Amapá. Indígenas e ONGs denunciaram sua morte violenta, depois que garimpeiros ilegais armados invadiram uma aldeia, que fica no município de Pedra Branca do Amapari.

O laudo policial divulgado na última sexta-feira indica que a perícia não encontrou lesões traumáticas que pudessem ter levado ao óbito e sugere o afogamento como causa da morte.

A PF informou que o laudo é preliminar, porque ainda são esperados os resultados da análise toxicológica complementar, em um prazo de 30 dias.

Rica em ouro, magnésio, ferro e cobre, a reserva dos Wajãpis, a cerca de 200 km da Guiana Francesa, sofre crescentes pressões de garimpeiros, criadores de gado e madeireiros.