A derrota do PT e do PSOL na eleição à prefeitura de Porto Alegre  provocou, entre eleitores desses partidos, um movimento de defesa do  voto nulo no segundo turno. Muitos consideram que este é o único caminho  a seguir diante de uma disputa entre Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e  Sebastião Melo (PMDB), e entendem que anular o voto no próximo dia 30 é  uma oportunidade de protestar contra a futura administração municipal.

As  manifestações a favor do voto nulo surgiram logo após a confirmação do  resultado do primeiro turno, motivadas também pelo posicionamento de  Raul Pont (PT), o terceiro colocado, e Luciana Genro (PSOL), a quinta  colocada, que sinalizaram que não apoiariam nenhum dos candidatos que  seguiram na disputa. Juntos, eles tiveram cerca de 203 mil votos, que  equivalem a 28,4% dos votos válidos.

Nesta terça-feira, 11,  à tarde, um grupo fará um ato no centro da cidade para disseminar a  ideia do voto nulo. A manifestação foi convocada por três jovens pelo  Facebook. Até o início da manhã desta terça, 4,6 mil pessoas tinham  confirmado presença pela rede social. O texto que chama para o evento  afirma que o segundo turno das eleições em Porto Alegre “não oferece  nenhuma alternativa para aqueles que se interessam numa gerência social e  democrática”.

De acordo com os organizadores, o protesto é  apartidário e tomou forma para dar voz àqueles que não se sentem  representados pelo resultado das urnas. “A ideia é mostrar que quem  chegar à prefeitura o fará com pouquíssimo apoio. Votar nulo é uma forma  de resistir”, disse Mikhael Bonfante, de 22 anos, um dos idealizadores.

Polarização

A  polarização em Porto Alegre tem relação direta com a política nacional.  Sebastião Melo, atual vice-prefeito da cidade, é do PMDB do presidente  Michel Temer. E o PSDB do deputado federal Nelson Marchezan Júnior  integra a base governista em Brasília.

Além de pregar o  voto nulo, o ato desta terça-feira vai protestar contra a Proposta de  Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita o crescimento dos gastos  públicos – o texto foi aprovado em primeira turno na noite desta  segunda-feira, 10, na Câmara dos Deputados.

Os  organizadores da manifestação dizem que querem marcar “o maior número de  votos nulos da história”. Na prática, a capital gaúcha já viu no  primeiro turno, assim como outras tantas cidades do País, uma diminuição  dos votos válidos, num sinal de insatisfação popular com a classe  política.

O somatório de nulos, brancos e abstenções  chegou a 382,5 mil no dia 2 de outubro. O número, que representa 34,8%  do eleitorado porto-alegrense, é maior do que o alcançado pelo primeiro  colocado, Marchezan, que conseguiu 213,6 mil votos.

Para o  ex-prefeito Raul Pont, os candidatos que estão no segundo turno  representam um mesmo projeto político. Desta forma, os eleitores que não  se identificam com este projeto se sentem órfãos. O PT governou Porto  Alegre por 16 anos – entre 1989 e 2004. “Eles (Marchezan e Melo) são a  mesma coisa, fazem parte do mesmo governo. Estão no municipal, no  estadual, no federal. Em outras cidades não haverá o voto nulo. A  situação de Porto Alegre é diferente”, disse.

O PSDB  integrava a administração municipal até o final do ano passado, quando  decidiu lançar candidato próprio à eleição deste ano. Na esfera  estadual, o partido faz parte do governo do peemedebista José Ivo  Sartori. O mesmo ocorre no plano nacional, em que o PSDB compõe a base  governista de Temer.

“O eleitorado mais fiel do PSOL sem  dúvida vai anular. Mas eu não vejo que isso se desdobre num fenômeno  político de grande significado, porque é um voto de impotência”, afirmou  Luciana Genro. “Não faço uma apologia ao voto nulo como uma saída para  os eleitores de Porto Alegre. Simplesmente lamento que eu me sinta  compelida a votar desta forma.”

Para o cientista político  Marcos Paulo dos Reis Quadros, existe uma tendência de aumento do voto  nulo em Porto Alegre no segundo turno. “O protesto dos eleitores de  esquerda é natural, principalmente daqueles mais doutrinários, que  defendem de fato as bandeiras de partidos como o PT e o PSOL”, avaliou.  Segundo ele, este protesto vai se somar ao daqueles que, independente da  orientação política, “estão desencantados e optam por não optar por  ninguém”.

Busca por votos

A disputa no  primeiro turno em Porto Alegre terminou com 29,84% dos votos para  Marchezan e 25,93% para Melo. Para vencer, ambos entendem que é  necessário correr atrás dos votos tanto daqueles que escolheram outros  candidatos no dia 2 de outubro como dos que abriram mão de votar em  alguém.

O tucano tem um discurso centrado no combate à  corrupção e na transparência da máquina pública. Ele se apresenta como  uma alternativa de mudança e defende que hoje o eleitorado não está tão  atrelado a um ou outro partido. “Os cidadãos estão muito angustiados com  a situação atual. Querem um projeto que seja factível, que não faça  mais do mesmo e dê resultado”, disse Marchezan.

Melo  acredita que o caminho passa por dialogar com todos os eleitores. “Além  de disputar o voto de outras candidaturas, temos que trabalhar muito  para sensibilizar quem não votou em nenhum candidato. Ele olha para a  política, principalmente em Brasília, e diz: ‘Ninguém me representa’.  Ele passou uma régua em todo mundo”, afirmou.